Sempre no início de ano faço aquela cartinha marota pra
sonhar um pouco com coisas boas que desejo em minha vida. Em 2017, a
turbulência foi tamanha que fiquei rouca, que perdi as horas, as contas, a
firmeza. Não costurei sonhos.
Fui ao mar duas vezes bater cabeça com as ondas. Acampei. Voltei
de lá com a pele em chamas, sem amor, com dor e confusão.
Daí então passou uns dias e eu escolhi fazer bonito, tentar
manter o que acredito (na verdade, esse já era um velho padrão). Ser só ombro, ser só abrigo, ser só sorriso. Mas não tem
navio que não naufrague nesse descompasso existencial. Estava nitidamente
perdendo meu ritual de passagem para os velhos padrões.
E então, 27 dias depois. Cá estou neste lugar. Lembrando que
eu insisti mais e, ainda sim, tornei a me perder no mar.
Parece carma, mas também reconheço que também falta-me
vergonha na cara. Dessa vez já sabia no que ia dar. Então dei os remos, então
dei a jangada, dei as flores, dei tudo.
Me joguei no desconhecido. Rompi um padrão, regredi três.
Acho que fui rápido demais. Hoje eu peço só calmaria. Peço amor, peço paz. Peço
que ainda me dê o mar aquele tempo de me cuidar, de me abraçar – porque de
todas as coisas que nunca poderia me negar era esse abraço meu, tão profundo.
Me deixar ficar em mim.
Ei Saturno, sei que estás aí regendo Vênus... Sim, a energia
já está no teto.
E como meu negócio é desaguar, tecendo aqui meus
sonhos eu entrego ao mar essas flores que plantei. Elas podem seguir e
florescer fora da minha jardineira. Não cabe mais. Vai lá.