Ela sentiu e escreveu na página amarela da agenda:
"Saí de casa com incontáveis sonhos, voltei sem nenhum!"
Lembrava das palavras de uma outra moça, não tão próxima, mas tão íntima do que sentia (era como uma invasora que lhe causava medo, e sentir-se assim por estar tão vulnerável em uma coisa que a tanto tempo era só sua, era bom):
"Porque, caso vestisse como pensa, vestiria-se como puta"
Naquele momento, depois de tanto silêncio, era bom sentir-se compreendida. Nas casas, a única coisa muda são os armários, e deles ela já não aguentava falar
"Os meus olhos dizem muitas coisas que outros olhos não veem"
A velha coragem desastrada, não muda nunca, é sempre a mesma. O que muda são os estímulos e a intensidade (o calor é bom do mesmo jeito)
E por seu simples prazer de quebrar a regra (porque é momento de buscar prazer) - abstinência é um fato (fatalista? Vai saber...), a regra de nunca mais escrever na 1ª pessoa se quebra. Ela voltou a escrever:
"Talvez por depositar nas esquinas minhas crenças, por
dividir com as putas minhas fantasias infantis
Da minha boca saíam cânticos, enquanto acreditava
receber de algum estranho na rua um novo refrão
Olhares tortos, bocejos... Tudo não passou de versos gastos,
de estrofes piegas de uma retardada de saia
As pessoas cansam das outras, cansam de todas
o tempo todo (enquanto
o encanto
se
quebra)
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