Páginas

17 de agosto de 2011

Puta!

Que subiu no carro, no primeiro carro, sem saber se dinheiro haveria de ter ou se dinheiro ainda iria dever.
A puta, que despiu seu amor de si, que transvestiu prazer e fingiu não ver que doía. Que tocou a carne, que viu vagar a alma e de nenhum remorso se serviu.
Puta! Mais que qualquer prostituta; sã, consciente, intolerável. Sem eu, sem deus, um amor ou tom.
Desgraçada puta foste, intrigada não ouvistes a si, ao espírito ou à seu próprio corpo. Puta, que morde o canto dos lábios, os faz sangrar e não os percebe jorrar sobre os pés.
Puta essa, que ao fechar os olhos não vê nada além do que sombra de árvores, chão e terra para se imaginar sendo tragada. Puta! Puta! Puta!
Incapaz de um gesto maior, que se prende no casulo, que preferiu domar sozinha seus demônios e acabar queimar... pelos olhos, pelo peito, pela carne, pelo espírito já morto.
Puta, que morreu, que não foi (e se ficou foi por incapacidade de ir). Não tem morada, tem esconderijo; não tem amor, tem caprichos.
Puta! Que não se vende, que não se põe nem como mercadoria. Puta, que entra em qualquer carro, em qualquer vida... Sem pressa, sem calma, sem culpa por "nada", nada que és.

Nenhum comentário: