Eu me lembro da sensação que tinha quando acordava bem
cedo, lá pelas 4:30 da madrugada, com a roupa já separada em cima da mesa. Esses,
com toda certeza, eram dias de médico – porque em casa as crianças podiam ser
exploradas que fossem, mas não acordavam de madrugada – nem eu e nem minha
irmã.
Era um frio diferente acordar esse horário, toda vez que
lembro os meus olhos tornam-se grandes baldes de água molhando o tempo. Era
tanto o tempo, ela acordava cedinho e saía quando ainda era escuro. É de uma
grandeza tamanha acordar pela madrugada, tomar um café, enfrentar a rua
sozinha e silenciosa para pegar o ônibus.
Lutar por tão pouco como ela lutava. Penso hoje, como
aguentou tanto tempo, ganhando salário de seiscentos reais, de segunda a sábado
para pôr o pão na mesa. Eu choro, porque quase nunca tinha doces, saladas ou
bolachas gostosas, era tão pouco e ela se matava para nos dar esse pouco.
Hoje, me encoraja lembrar que ela cuidou da senhorinha Anita
até a morte, lavou e passou durante tantos anos na casa das gêmeas portuguesas.
Ela ia todo dia até a Praça da Árvore ganhar o nosso pão. E o que era dela era
só a gente. Eu agradeço em prece silenciosa, desperta um amor tão doce e doído
por aquela mulher.
E daí, o sim ____________________________________________
É, eu decidi que vou. Ontem quando a água batia no chão
quente eu me lembrei daqueles tempos, foi lembrando desses mesmos tempos que
decidi.
Tudo isso que existe hoje a minha frente – que nem você
entende, mas acha bonito – são as flores que você plantou, meu amor. E ainda que não
saiba, está aqui porque não escolhi ficar.
Tenho em mim todos os seus sonhos, os que você sonhou e os
que não deram tempo de sonhar. Por isso somos uma só, porque onde eu estiver os
seus sonhos e a sua força estará comigo, lado a lado.
A melancolia dessa dor me alegra. Muitos os baldes junto com
tudo, mas o tudo vai vir! E um sincero e silencioso obrigada, porque as maiores
grandezas da vida consiste nisso aqui que sinto agora. Talvez você nem saiba. Obrigada mãe!
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