Sempre que lembro de mim, quando eu acordo, quando acaba o
sonho. Sempre penso que é de mim que nasce tudo, e de tudo quero um pouco mais
desenhar e entender.
Enquanto lá fora as passadeiras da cozinha eu percorro,
lavo, olho e estico melhor. Preciso fazer tempo, fazer caminhos um pouco mais
longos aqui dentro para entender lá fora – o mais complicado.
Procuro aquela música, que toca enquanto meus nervos se
retorcem. Depois relaxam um pouco e eu volto a circular as passadeiras da
cozinha. Porque lá fora o mundo ainda me enjoa muito fácil, as felicidades e
espontaneidades que não tenho.
Tenho acordado assim em dias bons, olho do lado da cama - é
meu amor. De olhar escuro ali dentro me vejo, tão querendo mais disso tudo, com
açucar, sorvete, gelatina, pizza e tudo. Eu sempre termino chorando mais, e
vejo enfim que engordei.
Vejo que dos tempos que eu aqui me vinha, eu era tão menos,
e tão mais leve. Hoje tudo parece grandes leques, que eu escolho e eu percorro
com tamanha dificuldade que só os pés e as mãos dizem. Hoje eu brinco de dizer
que só me conhece aquele que me vê os pés e o colo das mãos, os que sabem
reconhecê-los bem ou mal, porque é deles que vem tudo.
Ainda sou incapaz de fazer a performance externa, fica tudo
dentro. Porque fora é muito grande o rio, e da cor do rio eu não gosto. Do
risco de bichos, de mim, que breve serei um bicho do outro lado da cidade.
O medo. Percorre cada dedo, dobra, cada cheiro que
reconheço. Ser bicho entre aqueles outros, tudo de novo, tudo pressionando
enquanto parece que cai a cobertura. O
conhecimento, o entendimento, a recuperação, a dependência, eu bicho.
Essa é das partes a que me preocupo. Toco um desaforo do
Cazuza, não resolve. Do meu mundo eu sou a maior complicação, porque sempre
paro pra pensar no que é a vida, no que é a dor, no que é o passado e o lá na
frente, pra viver na mente acordada a interrogação de mais um sonho.
Tenho saudade do mar, da água calma e do meu deslumbramento
diante dos peixes. Amorteço os dias e penso que lá na frente eu vou voltar no
mar. Daí estarei sendo bicho “da federação”. Fico feliz e triste, é grande e é
pequeno ao mesmo tempo. Confronto a realidade e vejo, não tem como resolver.
Pra ficar melhor eu paro, que isso já não resolve.
Brinco de que não sou eu, mas sou eu falando de um outro
alguém. Vou, volto sem o compromisso de nada. O novo sempre assusta, é dele que as passadeiras fogem, é para ele que se vai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário