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27 de fevereiro de 2014

Descompenso, repenso e deixo
Corre o rio, levando
Me recordo, pisco e só a maré existe
É o mar, o que ele quer? O que as ondas querem?
Lá no longe, um peixe, uma planta
Me vem mais ondas, seguro e depois respiro
Olho as espumas brancas, lindas e sorridentes

Eu canto, descompenso, repenso e deixo.


14 de fevereiro de 2014

Pelo sim

Eu me lembro da sensação que tinha quando acordava bem cedo, lá pelas 4:30 da madrugada, com a roupa já separada em cima da mesa. Esses, com toda certeza, eram dias de médico – porque em casa as crianças podiam ser exploradas que fossem, mas não acordavam de madrugada – nem eu e nem minha irmã.

Era um frio diferente acordar esse horário, toda vez que lembro os meus olhos tornam-se grandes baldes de água molhando o tempo. Era tanto o tempo, ela acordava cedinho e saía quando ainda era escuro. É de uma grandeza tamanha acordar pela madrugada, tomar um café, enfrentar a rua sozinha e silenciosa para pegar o ônibus.

Lutar por tão pouco como ela lutava. Penso hoje, como aguentou tanto tempo, ganhando salário de seiscentos reais, de segunda a sábado para pôr o pão na mesa. Eu choro, porque quase nunca tinha doces, saladas ou bolachas gostosas, era tão pouco e ela se matava para nos dar esse pouco.

Hoje, me encoraja lembrar que ela cuidou da senhorinha Anita até a morte, lavou e passou durante tantos anos na casa das gêmeas portuguesas. Ela ia todo dia até a Praça da Árvore ganhar o nosso pão. E o que era dela era só a gente. Eu agradeço em prece silenciosa, desperta um amor tão doce e doído por aquela mulher.

E daí, o sim ____________________________________________

É, eu decidi que vou. Ontem quando a água batia no chão quente eu me lembrei daqueles tempos, foi lembrando desses mesmos tempos que decidi.

Tudo isso que existe hoje a minha frente – que nem você entende, mas acha bonito – são as flores que você plantou, meu amor. E ainda que não saiba, está aqui porque não escolhi ficar.

Tenho em mim todos os seus sonhos, os que você sonhou e os que não deram tempo de sonhar. Por isso somos uma só, porque onde eu estiver os seus sonhos e a sua força estará comigo, lado a lado.

A melancolia dessa dor me alegra. Muitos os baldes junto com tudo, mas o tudo vai vir! E um sincero e silencioso obrigada, porque as maiores grandezas da vida consiste nisso aqui que sinto agora. Talvez você nem saiba. Obrigada mãe!