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13 de dezembro de 2012

Salto

Quando alguém impulsiona pra cima, pra fora. Liberdade.
Quando alguém impulsiona pra baixo, pra dentro. Medo.

Dois complicados e relativos estados de ação geram o movimento único.


10 de dezembro de 2012

É de riso o nosso amor

Os olhos tocam
perfurando a pele:
É amor!

Enrolando e rolando no lençol
a cama agita
o ar também
O nosso amor!

Lá fora ouvem
sons agudos
mas ninguém vê
o suor que escorre
Do nosso amor!

De salto
"é de mágica"
que dobra
minha vida em flor
enquanto eu rio, rio rio
Rio de tanto amor!

Enquanto acalmo
a alma dança
o cabelo venta
nos olhos choram
a paz habita
O nosso amor!


4 de setembro de 2012

Casa

Não. Eu não conheço pássaro que sobrevive em baixo d'água. Não, também não conheço peixe que viva em terra seca. O pássaro precisa cantar e o peixe precisa deixar a aguaceira entrar inundando a barriga. É, eu entende disso pouca coisa. Sei só o pouco vendo o tanto de esforço que é para o pássaro, hoje mergulhado hoje. E do peixe, hoje arranhando a terra com suas escamas que caem.

Os homens grandes pegam os peixes e os pássaros com facilidade entre as mãos. Pode ajudar no caso.Ou não.

19 de agosto de 2012

Asas

O mistério das coisas, de mim e de hoje, consiste em do chão tirar os pés. Tocar com os olhos a poeira que o vento leve, levanta. E esta presença do mar nas ruas, o mar que não sabendo navegá-lo, deixar por alma dançar em correnteza.

8 de agosto de 2012

Amor

Tudo aquilo que toco, enquanto assisto da varanda os sambas que ela criou para mim. Amo a mim cada dia mais. Brinco, de dizer que não é, porque tenho no fundo a certeza que é enquanto a vejo sorrindo lá no alto. Vamos alto. Tão alto que não há medo. É mais alto que o medo conseguiu imaginar-se.

Na neblina, na grama, na brisa. Tudo vejo os olhinhos da cigana que leva e eleva a respiração dos aqui confessados. Amo! E tenho tanta dor no peito, de tanto amor, de tanto amar. Ela tem nome de flor, e eu, nem sei que nome tenho. Somos juntas quase o SUl, mas somos apenas duas breves e leves brisas que a floresta guarda lá pros lados de Paranapiacaba, com barro até a canela. Cheira o verde e fuma o verde, que o amor é nosso e a paz também.

28 de junho de 2012

Memória intocada

As grandes pequenas roupas que marcaram a infância foram a jardineira jeans com letras coloridas do alfabeto e o vestidinho branco abaixo do joelho, estampado com várias vaquinhas. Na jardineira, apenas as três primeiras letras; no vestido, somente o cheiro de novo (que parecia não sair nunca) incomodava.

Algum comportamento inadequado, alguma curiosidade e alguma outra traquinagem que preferiam não comentar. A patinar na rua esburacada, a escrever para pessoas queridas. A viagem para ver a família, o pai e os irmãos-não-irmãos. O caos, a alegria que não se diz. A memória que não se apresenta na linha do tempo: a infância que não se distingue da adolescência, que não se assemelha ou aproxima da puberdade. Abismos entre a lembrança de uma história e outra. Em algum lugar, a memória concreta guarda essa tal infância intocada. Com motivos não ditos, hoje, não fatos.

Personagens que não se vê, eles se narram entre um silêncio e outro do cenário que aprisiona o viver da época da jardineira e do vestidinho mal cheiroso com estampas de vaquinhas. O tempo que passou, as botinhas marrons substituíram as sandálias de plástico, sandálias que nunca deram espaço a um bamba. Um dia, o plástico voltou aos pés, se confundindo no tempo de hoje pelo passado: em confusão.


24 de junho de 2012

Esta loucura é o resultado, o amontoado, o vômito, a resposta para cada linha lida ao longo da vida. Reflexo, de cada imagem já vista, de cada apreciação ou rejeição acometida ao ser. Os amores e as ilusões que dançam no imaginário salgado do ser, afogado ou simplesmente imerso ali, naquele lugar. Falando pra dentro, chorando pra dentro, rindo da vida que a memória deixa intocada. A própria história que se esconde, a desculpa para o hoje que tem.


19 de junho de 2012

Guardei debaixo de sua asa meu pensamento, e vi voar. Segurei nas palmas meu coração saltando da boca sem querer e sem recear. Imaginei a luz, e a luz veio. Quis que fosse assim para dizer enfim que te vi sorrir de amor. Aprendi a cuidar sem redoma, provar da dor sem gritar, deixar para lágrima não o agravo, mas a liberdade de sangrar. E com o curso completo e aperfeiçoado, a cadente estrela passou e fez do existir o mais belo ato.

18 de junho de 2012

De querer ver

proliferar o riso!

Do pássaro que voa sobre a sua cabeça, a brincadeira de ser liberdade e erva, que fincada na terra, forma um lindo campo de se deitar os olhos. A audácia de perguntar das cores só para sentir nas palavras dos outros a sensação de estar em outro corpo, e ver além, e sorrir.


Lá fora os sonhos, que de forma ou outra se fazem seus. Saudação à uma nova miragem que se ocupa: a vida não morre, a vida vibra em brilho e cores que imagina com as palavras.

E diz, por querer ver proliferar o riso. E ouve, sonhando ver proliferar o riso.

6 de junho de 2012

The Last La-La

Enquanto a gota quente escorre, os olhos dóceis que me olham e veem aqui a esperança que sozinha eu nunca tive. O orgulho e a gana de vencer que nunca foram meus. Eles comemoram minha chegada. Nem ligo que cheguei. Cheguei? Concordo, mas não percebo.

Últimos quatro anos que um computador registra; as últimas bilhares de lágrimas que o colchão guardou, estas páginas e os cadernos na estante da sala. São a resposta de tudo. Tão estranho, e tão confuso. A memória brinca sem se mostrar. E a certeza é que muitas coisas novas me ocupam, mas nada deixei. Vez ou outra os pensamentos brigam, mas todos ficam, dentro ou fora do lugar.

Tanta imagem, tanta sensação conhecida que, na verdade, não entendo. Tenho apenas The Last La-La dançando em cada veia que pulsa, digamos que "insistentemente". O quarto em mar. Revoltas, as ondas batem.

4 de junho de 2012

Palavra

"E de tanto cismar sozinho a noite", rasgou mais um dos véus: do breu. Cantou pelos poros cada verso, ocupando o espaço e contaminando todo o resto com o que a noite de vento brando deixou chegar.

No espelho, cada gesto gritava um canto de quem quer viver, de quem quer amar. Em cada coro, um novo modo, um novo jeito, um novo novo. Início. E o caminho todo limpo, e a roupa toda limpa, toda linha alinha para um novo verso. 

De saber calar quando preciso, de poder gritar em improviso. Palavras que tornaram a alma liberta.

3 de junho de 2012

ESTANCAR, 1ª PESSOA

Eu queria ter palavras toscas para responder aos estímulos do mundo, ser tomada de uma superficialidade desumana, como alguém qualquer que a usa com facilidade. Queria talvez ser apenas mais um. Mais um que anda pelas ruas, entregando sua força de trabalho para ter o que comer enquanto assiste filme ou vê o jogo na televisão de plasma parcela em 24 vezes. Bom seria não me importar tanto com os números, ser aquela que não relaciona os mortos do centro da cidade com a favela interior de cada um de meus amigos. Queria não ter palavra, ser muda de vontade, ser muda de opinião, ser só um ovo (não aceito cru, quebrado e levado ao fogo para que, de uma coisa fedida, tornasse um alimento para qualquer outro bicho). Queria ser aquele que traga qualquer coisa, vomita e depois parte para o outro prato (sem pressa e sem lembrar que o relógio segue em seus segundos infernais). Queria um remédio, ser digna de uma alegria alucinógena que hoje não me chega, um plano novo. Um universo que não este. Um mundo em que deus é visto na grama e nas árvores. Um lugar sem placas e sem pessoas que cobrem ou leiam tais linhas, longe de cada pedaço que me habita e me faz sentir o último dos que tentaram algo melhor. Talvez, se as veias fossem um pouco mais grossas, a dor eu estancaria com uma ponta fina de aço que deixei na gaveta.

Um todo sem abraço

Todo canto dessa brisa
bate e vai
Carrega o visgo
sonhos meus.

Toda forma de canto
soa e se desfaz
Bate lataria no quintal
silencia imortal.

Toda certeza brinca
pulando onda
Sem onda é
correnteza que tudo leva.

Toda sede reina
espera finda
Chorosa brilha só
é noite de lua cheia.


1 de junho de 2012

Brincando de dizer o inverso

É noite de chuva, chuvinha. Sabe, aquela chuva fraca que te embala e faz tudo ficar tão calmo? É assim essa noite. Quentinha debaixo da coberta, nem importa o gato que mia lá fora de frio; não se lembra dos não-moradores, seus vizinhos. É a chuvinha calma que deixa até, até, até as palavras saírem mais devagar. E é tão quentinho embaixo da conversa, a mente leve que as gotas do céu tocam. Gotinhas que acalmam. Falando, parece tudo tão bonito e sereno. A noite é quase doce nessas linhas de ironia. Risíveis linhas inversas.

29 de maio de 2012

Condecorar cada lágrima que derramei naquela praça, adoração à minha dor que desenhou meus olhos mais grandes na última madrugada. Meu sal na face, a razão que deixa a quimera ir. Intocado, aquilo tudo foi-se embora entre clamores, gemidos de dor e prazer que infernizaram por horas a minha mente. Agora mais leves, mas ainda aqui. 

O universo assiste o doloroso processo. Um cd novo, um poeta novo, um milhão de ideias e sonhos que riem de tudo. Um mar salgado se forma, um completo caos. Sem margens, sem barcos, vem vencedores. Arranho os vidros, a minha redoma. A minha poesia jogada no vento. A lua linda que eu sempre falava também assistiu cada cena, cada monte e desmonte. Teci descaminhos, eu teci por conta da dor, de ser incapaz de resolver o mundo. Pequena demais. Meu mundo dorme mais um cochilo, meu quarto em mar, enquanto arranho os vidros. Trabalhada em minha pequinês, fui ali afogar de mim, mais um pedaço. 

26 de maio de 2012

Revirar

Lembro apenas da cozinha apertada, menos de três metros entre um móvel e outro; mesa, armário e geladeira deixavam todos unidos na hora do almoço. Na pia, um cesto de lixo bem pequeno, um escorredor bem antigo de aço e algumas escumadeiras penduradas. Me entristece esquecer a cor do cesto, vivia a lavá-lo entre conversar, risos, lamentos e conselhos.

Aquele azulejo antigo, fazia-me sentir em uma casa que habitava desde pequena. O tapete da sala, a bela cortina lilás e as banquetinhas especiais para as crianças que vinham. E a mesinha azul? A proteção atrás das portas para que não batessem, as fotos na estante, os sofás sempre forrados com cochas de cores sortidas, muitas almofadas e tapetes pequenos na beira do fogão...

Pela manhã, a gente gostava de sentar na cadeira perto do refrigerador, comer torrada com geleia ou pão de forma bem dourado na torradeira (também antiga). No banheiro, uma escova verde, só minha, e o sabonete facial que  eu também usava. Tinha um esquema para o chuveiro funcionar, me lembro de tantas vezes que precisei de ajuda para que ele funcionasse... A memória me revira.

É indescritível o acolhimento que me prepararam, e hoje eu lembro do gosto que tinha. Com direito a panqueca de frango e macarrão, torta de limão e nenhum olhar opressor sob mim; alguma bronca pelo horário, mas só. Deus (a bondade) me deu essa recordação, que com tanto carinho guardo, e com tanto amor hoje, relembro.

DECIFRA-ME OU TE DEVORO

Tens um ponto na orelha que sussurra diariamente "Decifra-me ou te devoro". Relembra a paridade com Édipo, intrínseca nos textos da adolescência, e hoje palpáveis, abusadamente mordidos e mastigados nas relações sociais, nos sonhos e na grandeza dos abismos que visita (diariamente).

A existência é uma vertigem sem gozo, sem querer absoluto. O viver em, o estar no, a ida ao, a viagem para... sempre parecem o start que alguém te deu (com tapinha nas costas). As coisas belas se perdem tantas vezes, as frases dedicadas, o encontro das peles... Esse script que cada um segue é tecido com arames, e isso é necessário não permitir, não aceitar, quebrar o mundo e passar por cima da mitologia universal. 

Quase sempre não responder ao enigma se torna um amontoado de palavras, de escrita sem razão. Mesmo assim, nesse viés (aparentemente justo) não se corta menos quanto acontece entre os personagens quando diante da Esfinge.

24 de maio de 2012

DO QUERER

O corpo todo formigando, por dentro as paredes encharcadas e alguns dos nervos com inflamação. O que palpita, relembra tudo como se este fosse o momento real que os fatos aconteceram.

E quais são os fatos, o que é tão importante ao ponto de fazer daquele corpo um pedaço de trapo rasgado, sangrando em um pedido infernal, por um tocar de olhar deitado sobre a estranha pele? Um pouco doloridas, as mãos, a face, a boca, o olhar nu na plenitude de um desejo. A necessidade é de palavra, versos recitados pra dentro daquela boca.

Onde estarão os freios que seu silêncio pede? Onde guardam a chave dessa pele dela, intocada por dentro, não conhecida mais profundamente, mesmo por aqueles que entraram?

Onde mora o sorriso, a cama em que deita, o segredo do murmúrio que impede o complemento de suas frases? Onde é o ponto fraco destas lágrimas para que as flores daqui possam crescer e ocultar?

Por que ainda esconde o corpo? Por que priva o mundo de sua voz doce? Por que aquela alma se guarda assim, longe do mundo simples que sestas palavras apresentam? Por quê?

Por que céu? Por que grão? Por que som? Por que ainda tentar (.), (?)? 

22 de maio de 2012

o clichê "tempo"

Um dia, qualquer ser já desenhou um sol no pedaço branco de papel. Estudou o feudalismo, debateu escolas literárias, comentou sobre o despertador, bateu o ponto, falou que não dava mais tempo: mediu períodos!

Que a vida não te seja ampulheta imaginária, que te serve para moldar os passos em constante desespero. Que o teu sonho não se esgote nessa areia contada, que cabe a um alguém de olhos atentos, longe dos seus sonhos, alguém que conta seu tempo sem você, grão a grão, pois que as mais doces e sublimes fantasias se ocupam de períodos não-matéria, não obstante então.

Enquanto o motor do carro cheio de portas, cheio de rampas, de eletro-facilitadores pelas casas, pelos terminais e pelos bancos que guardam preciosos sonhos. Coisa triste é medir período! Porque período é sempre coisa vinda sem controle, com metas e com motivos que catalogam o que somos, sem a gente querer ser, ou ir, ou vir, ou simplesmente não ser. 

Viver não é a parte difícil, desafio é olhar todos os dias os mesmos ponteiros e ver além do que aponta o calendário. Os prazos que nos destroem quando não cumpridos, os níveis que um manual imaginário impõe e gasta a nossa pele que se retrai. E a raça humana se escraviza do próprio tempo que cria, e morre pensando que venceu mais um dia. O clichê "tempo".

17 de maio de 2012

As cenas bonitas e "ocultas"

Ouve-se o barulho do mar, enquanto a cabeleira encaracolada atravessa e levemente toca o vento. As covinhas em um rosto macio de menina, sentindo nos pés as pedrinhas da areia fina que a maré não toca.

Sozinha e sem medo, a menina corre coberta pelo céu limpo e azul. Tem sol e a brisa é leve, a maré é calma em plenitude.

Vestidinho solto, em movimento circular.

Valsando na areia da praia, uma criança sem margem na beira da praia. Toca leve a imensidão e sorri, indescritivelmente.


_*OCULTO, tudo aquilo que se fantasia para apaziguar a ventania. Um sonho, uma saudade, uma projeção intocada, distante e perto - quase sempre. Véu que embala alma.

2 de maio de 2012

Tudo
fica 
tão triste
quando 
não cabe 
no meu
dia
esse 
espaço.
Que cultuo
como a coisa
mais preciosa que tenho.

Enquanto isso, no lustre do castelo, versos se perdem no bloco de notas. Guardam o que escorre, e só. Mais um tempo que se perde.

5 de abril de 2012

Foi de tanto amar...

Que louco morreu, e o rastro deixou: de ideias configuradas em palavras que nunca levaram a nada.
Corpo que morre para permitir o amor imortal, desde o primeiro beijo até o último desejo quebrado em trinta mil pedaços. Imortal para si.

25 de março de 2012

Vulto embaçado de ideias, sentimentos e outras coisas mais

Toda referência de palavra é referência de alma
Toda forma de olhar e tocar as coisas no mundo é essência.

Se leve, leve. Se rude, rude!

A boca é a correnteza do mar que somos:
às vezes se quebra e às vezes se rompe, sem méritos.

Puramente, de forma singular

Cabe aqui, vulto embaçado de ideias e de essência, todas em liquidação!


14 de março de 2012

Alento

Arrastei o corpo até aqui, desde o ônibus vim com esse pensamento. Me arrastar até aqui para desaguar e desarmar toda a minha dor. Em volta, um deserto pleno, e eu que sempre gostei de água, me vi presa dentro desse corpo, dessas necessidades singulares e incompreensíveis para aqueles que ainda conto. Terra seca, e eu também sempre gostei do campo...

Pergunto à moça que reflete a cara no vidro da porta do Vargem Grande, "será que não está querendo demais?" Essa sou eu, que me escorro um pouco. O moço da frente, que parece pai de família puxou minha bolsa para segurar, acho que por complacência ao que meu ser pede. Alento.

As paredes, eu me pergunto até quando elas existirão entre eu e os Meus, meus medos, minhas neuras. Meu passado latente, dia a dia quando olho nos olhos dos que não me veem. Decreto mais uma emenda ao meu ser, renovo e reelejo a necessidade de paz. Afirmo, em primeira pessoa que "revolução legítima é aquela que não deixa escorrer sangue".

Questiono sobre o caminho que meus pés trilharão, sento comigo aqui. Lembro que observei o céu enquanto a lua se escondia. O clarão dela se escondia, mas eu sabia que estava lá. Então não via a lua, mas eu entrei pra cá sabendo, ela estava lá para iluminar a noite da minha cidade, tão seca e triste hoje.

10 de março de 2012

Bem-entendidos

Caminhar. É importante caminhar, olhar para os pés, onde eles pisam, atentar-se caso sintam dor, caso estejam feridos. É importante deixar a sua mesa posta, para uma refeição solitária, para anotar suas dúvidas, revisá-las. É importante repensar, também importante é não ter certeza.

Quem não tem certeza sente sede, sente fome, tem necessidade. Procura, é achado, é navegante. Porta aberta para o novo. É mais que si, é uma molécula de um todo real que também busca esclarecer dúvidas: o mundo real e concreto!

É bom mergulhar a cabeça inteira, os ombros, os braços e as mãos (sem reserva). É bom se perder e continuar perdido. O todo não é elemento existente nesse universo, nesse plano. O todo é uma bela fantasia comestível que as gentes provam para se vestirem, para não aparecerem nuas.

É bom estar nu, ver outros corpos nus, outras almas sem cortinas que não escondem medos. Porque estar perdido é estar vendo a sua real condição, sem necessidade de fantasias vãs. É ter necessidade e saber pedir ajuda, é dar ajuda por vontade imediata. Pra quem duvida não tem depois, não calcula lucros, não premedita ganhos.

É raro achar um perdido, é cenário da atualidade ser um bem-entendido, com frases claras que perfuram os peitos, com dinheiro no bolso forjando truques. É cenário atual.

Que se preservem os perdidos
que eles se encontrem dispersos nas esquinas
chorando nas praças abandonas
ou rindo, cobertos de fumaça.

4 de março de 2012

É preciso ser feliz sozinho

É preciso ser feliz sozinho, quando ser feliz possível for.

Sinais

Um homem, uma mulher

Seu corpo coberto de marca de facas, seus braços que dia após dia vemos murchar com a diabetes, às vezes seu silêncio, suas olhadas tentadoras sobre as pernas que tímidas passam... Preso nos olhos de menino, quase cego.

Passa o dia bebendo água, aposentado e segurança da casa que Maria trabalha, outrora representante do Estado na Febem.

Cuidadoso com as palavras, raramente galanteador de vaidades, convincente na adjetivação alheia às meninas moças, as quais com galanteios simples se dirige. A ele, Maria emprestou os sonhos dO Pequeno Príncipe, os quais depois comentou com voz de inocência.

Forte, com uma linda trajetória, que mesmo não verídica, já valeu pela bonita invenção que suas expressões causaram.

É verdade, a primeira vez que o corpo de menina gosta de ser visto como corpo de mulher. E se criança era, a partir de agora com curvas e olhares de caçadora, a moleca deixa de ser caça.

Agora pega na mão com demora, segura firme e sorri largo, deixa-o perceber que o vê sedento mirá-la. Ele a observá-la.

Na sua boca de homem conta a história de seu personagem, cinco anos dormindo na sala, sem toque, sem sexo, sem amor. Admirável história.

Desta forma, o cenário se configura, muda paisagem, muda quem era ela, agora o diálogo só resta entre ela e Ela mesma, agora Maria-mulher, Maria que se vê bonita, mas em caminhada só.

"É preciso pouco para vê-la. É preciso mesmo vê-la? Agora, acha que não".

26 de fevereiro de 2012

As veias falam

Não caminham no sentido contrário do seu
você caminha em seu sentido, contrário.
É uma questão de não-lógica
onde a doença está em seu comportamento.

(fico aqui olhando o meu espelho, perdida em toda gosma que sou. Me perco de mim quase sempre, e ainda fico achando lindo quem se procura, como se este fosse um estágio que chegarei, uma desculpa de mim, do que sou, do labirinto que vivo. Nunca pensei dessa forma, vista por um texto de auto-ajuda _tipo de coisa que odeio_ enviado via mensagem rápida da rede social em que me mostro. Ando não fazendo sentido, decidi que não quero mais me permitir, não quero mais ser. Chega de fala, a boca aberta demais embrulha o estômago que embrulha com o cheiro do café que quase todas as casas servem. Não quero me servir de mais nada. Quero morrer de fome, quero ser como alguém qualquer, chega de querer demais. Simplifico, deixo de ser. Não sou, não vou, não insisto).

25 de fevereiro de 2012

Ausência de margem, é isso que é

As margens se perdem, como podem se perder? Começou pelas margens, pelo contorno que delimitava forma, e caiu em queda livre fazendo barulho de chuva no asfalto fodido de uma rua qualquer da zona sul de São Paulo. Em uma rua com árvores, muitas árvores e pouca luz. Dizia adeus a mais um pedaço que era seu, água da chuva virou esgoto.

Quanto maior o silêncio, maior o rompimento, o corte, a fenda, a rachadura do cristal. É daquela gente que se rasga inteira por um sonho, por um cheiro que nem gosto tinha, ou por um gosto provado tão rapidamente que talvez até, provável até, certo até que mudaria de sabor. Talvez não uva, talvez não tão doce com aquele azedinho no fim.

Mais uma vez, a tentativa de jogar o jogo que a regra principal é não ter ganhadores. Perderás, enquanto andar sem pele, ser mordida por formigas e ser vomitada por jogadores já perdedores de outras guerras. Flagelo. Não poderia nunca ser diferente, nunca!

Andar por aí sem pele, sem margens, sem comandar bem a sombra, sem regular sonho, sem ter na sacola um "não" para a própria dúvida, a própria esperança vã de abraçar o mundo concreto sem ter margens. Digna de pena aquela moça que anda pelas ruas das árvores e com pouca luz.

Falaram pra ela. Estão falando agora, mas o que adianta? Não se escolhe ser cachoeira aberta, ser um rio ambulante sem margem, sem a essência que fala... dizem sempre que precisa ser mais racional. Enquanto lá dentro, o mundo gira o tempo inteiro, mudando de tom, mudando de gente, vestimenta, roupa, touca, boca, jeito, cheiro. Ela sempre soube que nunca fora boa para administrar coisa nenhuma, nem os próprios segredos, nunca.

Vejo-a agora, se tecendo em frente à uma tela branca, e cada palavra fundada lembra uma fenda aberta em seu rio sem margens. Digna de pena, de pena. O amor é coisa para poucos, a sorte, a vista grossa, o pouquinho que a vida dá. Lá vai ela, cambaleando em um choro sentido, escorrendo por dentro e por fora. Querendo sumir, vai mutando, até que a água seque e a ausência de margem não faça diferença, a morte. Por enquanto, é esgoto que corre fazendo barulho no cimento fodido na zona sul de São Paulo, em uma rua cheia de árvores com pouca luz.

21 de fevereiro de 2012

Sinceridade é uma garra, uma bala da arma chamada amor. Andam sobre os pelos arrepiados abrindo cicatrizes, e quem disse que queremos parar?

Com garras e balas, umas mais leves, outras mais claras; abrem filetes em nossas costas fadigadas, não queremos deixar de amar o cuidado, a bondade, o que é doce. Com música ritmada, abismo grande se abre; buracos se contrapõem, alinhando as cicatrizes.

Pelo silêncio que paira, as costas ardem enquanto a boca cala. Não treme mais, ela cala e acabou a história!

19 de fevereiro de 2012

Bloco de carnaval

Sobe no palco que não é seu
sai de um mundo em que és barro
vira atriz
sorri.

Flutua
escancara a vereda da vida
se arde, se mostra
é!

Na multidão, você não é você
todos são você!
Completos, felizes
puros.

Alívio que se instala, se acomoda
se ajeita nas quimeras
se embrenha nas angústias
resolve tudo.

E quem há de negar
mesmo que acabe
a purpurina dura
vira memória concreta.

Ser isso é ser algo
é ter algo
é estar no meio da gente
é sentir-se sendo algo.

17 de fevereiro de 2012

Fora da casa, um mundo que respira sem licença. De um beijo bom que despede, de um "beijo bom" que sem permissão chega. De um lado arranha, de um outro afaga. Não é confuso, é a vida de poesia rasgada, bonita e sangrada como é. Percebida por quem anda pelas ruas sem pele, sugando tudo aquilo que é tocado pelo ar.

13 de fevereiro de 2012

11 de fevereiro de 2012

Suscetível

As árvores, a divisão da palavra e o abismo inteiro suspenso em uma frase do Oswald de Andrade, que era nós. Pensei que o tempo, onde ele estava podia ficar pra sempre. Nem sei se muito por mim ou por ela que encostou no banco da praça, e docemente me olhou escorada no encosto do banco da praça. Quase em mim, nua eu estava. E vi, quão só me sentia, e quão bem e acomodada em seu sotaque eu estava. O melhor flerte que já me permitiram.

Esqueci de uma das casas que a paixão me ocupa, lembrei do que era me sentir fielmente dividindo as minhas dores, minhas dúvidas.


Eu não ria assim, não me distraía assim. O tempo foi fechando e mais os meus olhos iam curiar aquela alma, e quando vi já era o tempo de entender nada em mim. Se entrei pra dentro de mim por ela, ou se me coloquei pra fora para ficar ao lado dela, não sei. Só ficou macio, até o meu olhar, macio.

Paro o texto, sinto o cheiro do rapaz que passou na calçada do bar. Lembro da minha casa dolorida, de que não posso mais habitar e de que abandoná-la está sendo veladamente doloroso.

Uma gota que escorreu do primeiro copo de cerveja, caiu na perna dela. E na perna reparei, nos olhos e no discreto par de seios. Calei meus olhos e falei com as energias que ficaram aqui. Ali no ato, já queria estar dentro dela, acalmar tudo e fazer dali um laboratório de sonhos novos. Quis ter a palavra inspiradora que fizesse sentir-se amada, um pouco mais feliz.

Agradável ela se fez e existiu em mim. A chuva e os carros, passavam e paravam no sinal vermelho na rua do bar. Vermelha boca, chuva e isso lindo, é o que me resta.

9 de fevereiro de 2012

Foi alguém que deixou a brisa, alguém que me comoveu, pelos olhos que abrem abismos, com colo quente e inteligência

Um dia alguém me falou da vida como ela era, me mostrou um texto meio seco sem rima, e me respondeu de forma prática uma dúvida que era eu. Em um plano do avesso do avesso sonhei a realidade desse alguém, e confortavelmente chorei, confortavelmente sorri. Era lindo ver inebriar meu caos, embebedar-me a razão e virar de costas.

:)

5 de fevereiro de 2012

"Não queremos mais guardar silêncio" - Lira

Já foram muitos baldes para colher toda a inundação
para recolher todo o estrago da astuta tradição
da fé que ousaram aprisionar nas regras,
que ousaram condenar
Tudo aquilo que não estivesse estreito o suficiente.

Foram tantos baldes e tantos afogamentos.
muitos mortos, muitos desaparecidos e inúmeros cortes e sequelas,
que até hoje, permanecem sem cura, sem cicatrizar.

E depois de tanto colher as gotas, e de tanto retirar a lama...
volta com fúria toda água da mesma fé
condenadora, opressora, de um sistema lacrimal que promove o regresso.

A fuga de quem busca a paz, a omissão dos oprimidos. Na lembrança, o santuário iluminado cheira desejo reprimido. Já não existe sonhos nossos lá, então nos deixem sonhar aqui fora.


4 de fevereiro de 2012

É como entornar a taça de vinho em minha roupa limpa, e como sempre faço, esfrego uma parte na outra para tirar o excesso. Não importa que eu esteja suja, só para prevenir uma eterna e futura mancha. Mas era tão bom brincar de manchar as paredes da taça e fingir que derramaria aquele coágulo pra fora do recipiente de vidro.

Depois de derramar o vinho, derramei a taça e terminei, sem querer terminar... Terminei a taça em cacos sobre mim, sobre minha roupa limpa. Fui tirar os cacos, cortei um dedo, cortei a pontinha do indica-dor e quando vi, minha palma era toda sangue. O sangue cheirava bem e não manchou a parede branca do comodo que não era meu. Sujou só em mim, e cortou só em mim.

E ali eu fiquei, encolhida de vergonha. Com a dor de ter o vinho misturado com sangue, e cacos, muitos cacos. Fora de mim, um sonho grande suicida se decompõe, e me decompõe junto também. E junto, nada mais. Nem os cacos, nem os cacos, os cacos, e nem, cacos, nem, cacos. Nem.

2 de fevereiro de 2012

Por aqui...

Tecerei com lágrimas, com palavras (as mesmas) que sou. Lá fora tudo dói, o vento me arrepia os pelos dos braços, e dói. E dói. Aqui é como sentar na cadeira de balanço, sentir medo, mas me conforto com as minhas reflexões, a dor mais fácil de ser compreendida. A minha dor.

O clichê, que eu carrego nas conversas curtas que as pessoas cultas não entendem. É muita ignorância para uma pessoa só, sou só ignorância. Sou a covardia em pessoa, covardia tamanha que fecha durante vagas e várias horas do dia comprido, cumprido. Pessoa covarde que só se acalma aqui, por aqui.

Flor de laranjeira que bebi, fervida na água quente para me acalmar...

Flor de laranjeira, que perfumada noite, umedece a pele. Pedaço desgarrado de árvore que invade quintal a quintal. Te vemos vagando um vôo singular que alcança orvalho dos novos corpos com que se deita.

Flor de laranjeira, que bate no vidro da janela toda noite e chora um choro sentido que inunda o quarto escorrendo por debaixo da porta. Quer entrar deprimida e inebriar os sonhos dispersos.

Flor de laranjeira, de cor e cheiro vivo, imergi angústias, submergi sonhos e ousa desenhar um novo desenho com capricho, e com cuidado, zelo e apego. É. Se fez a mais bonita Flor de laranjeira plantada no quintal do meu vizinho.

31 de janeiro de 2012

28 itens

Uma ilha, um abrigo
Um abrigo, uma ilha

Uma estação, um fruto
Um vento, uma flor

Um sonho, uma nuvem
Um amparo, um colo

Uma palavra, um consolo
Um dormitório, uma coberta

Um dia, uma tarde
Uma grama, um pôr do sol

Um desenho, uma risada
Uma verdade, uma lágrima

Um bote, um colete
Um mar, um protetor

Um não, um sim
Um silêncio, um canto

Um, Uma



26 de janeiro de 2012

Palavras para uma MÃE na beira

De certa forma e certo olhar pesado, é como se também fossem seus os problemas da filha. Apesar de sua larga estrutura, seus pés tão bem firmes e de caminhar preciso, ela estava esmorecida. A morte viera lhe lembrar que por mais que pese ainda terá causa maior para resolver.

Dessa forma, os grunhidos ficavam cada vez mais raros, os desabafos, as lágrimas. Nesse tempo doloroso, que se anunciou há três dias ela tem calado o boca. Às vezes a olham com a mão no centro do tórax, respirando fundo e soltando o ar pela boca, como nunca houvera feito antes.

A palavra MORTE é recorrente na boca de cada um. Na filha do meio, na mais velha, do menino de três, onze e o marido de trinta. Olhando em volta as imagens, a forma que vê os outros olhando-a assim, tão frágil, é como confessar em um alto falante que pela primeira vez é incapaz de tudo. Antes, até capaz de matar era, agora não mais.

Uma sombra triste e chorosa puxa um dos bancos de plástico, senta em volta da mesa e fica, esperando a hora de sair e despedir alguém, e levar alguém, e esse alguém é ela: que se vestiu de mãe para viver, que escolheu ter filhos para ter algo pelo que lutar.

Em sua história, de mecânica, de faxineira, arrumadeira, enfermeira, recepcionista, catadora, vendedora de bala, maquinista, pedinte e moradora de rua. Tudo isso foi, com um filho pendurado em cada peito pedindo leite. E mesmo sem comer, quando não tinha, ia na padaria mendigar um resto, resto de qualquer coisa.

Demorou um tempo para vida mudar, não foi? Começou na roça, queimando a cara debaixo do sol, e lembra até hoje com a marca escura no alto das costas, a fome que na roça passou. Passou fome na cidade cinza, chegou a ganhar dinheiro tirando prego de madeira. Seis madeiras por dez reais. E hoje?

Dói ver em volta, que o coração inxado só vai registrar até aqui, e que a vida só deu até aqui. Que sua casa ficou com as paredes em reboco, que seus filhos nenhum casou, que ninguém fala outra língua, ninguém em casa vai na igreja e que o amor, apesar do filho caçula, não vingou. Isso é o máximo.

No fundo, todos estão inchandos. Alguns pra fora com os olhos inchados, outros para dentro, com o coração igual ao dela, pedindo descanso.

Mas às vezes é melhor a morte rápida, disse a filha, pelo menos não fica agonizando. É triste, enquanto tudo começa a ser planejado na cabeça dela, para deixar tudo em paz, como quando a bolsa para maternidade já fica pronta esperando só a bolsa romper, só que daqui nada nasce, tudo morrer, porque como ela mesma diz, "não nasci pra semente".

21 de janeiro de 2012

Embaixo de suas pernas, paisagem corre

Quantas vezes se descalçou para entrar, quantas vezes tudo foi o suficiente, e quantas inúmeras vezes, o universo inteiro, com tudo, também não foi o suficiente? Peça por peça do seu figurino é tirada. A nudez antes de uma vestimenta nova.

Sorri. O mergulho é na areia, de secura e concretude. Se esvai os devaneios, sentando a bunda na poltrona da vida. Ereta e solidificada, as partes não se dividem mais - quem sabe as gotas se multipliquem, mas é em terra seca que se nada.

O chão se multiplica, é preciso mais que papéis, mais que sonhos, mais que sim, mais que não; mais que tudo isso para mudar. O "quase" se espalha no ar, e depois de muito tempo, tudo debaixo da areia (que não era de construção) é dispersado no ar como incenso. Cada toque, cada passo, cada "fotografia engasgada", cada ir e cada voltar. Para ganhar (perda) mais pedaços (tempo) com aquilo que realmente combina com seu cenário.

(Em nome de tudo que já fora derramado, arquivado e revisado)

17 de janeiro de 2012

IV) Espalhar

Espalhar. Dispersar. Dividir. Desmbrar. Dar-fim.E disse, já que não é possível salvar os dois, que cada um morra de um lado. Um se afoga e o outro morre de sede. Sede. Enquanto bóia olhando para o céu azul. E aos que não sentem dor em desfazer, parabeniza-se. Desse lado mais um pedaço morre sem querer de forma nenhuma o substituir. Tirem as crianças da sala, da sua sala, que a cena é séria e não tem nada de doce. Fecha os olhos e rema, que a maré é outra, e você que não sabe nadar, hora de beber água.

13 de janeiro de 2012

III) ÍNTIMO

Se tocavam, em plena luz do dia e publicamente. Era invasão de um e vulnerabilidade de outro, prazer de arrastar e sentir-se sendo arrastado para o fundo; era quase como seres celestiais coletivizando o gozo, mas o seu era especial.

Entrava na calcinha dela, e de cima também era tão lindo que pouco importava a calcinha, quem precisa do que tem nela? Do que entra nela? Quando os olhos empoçam, tocando delicadamente cada linha, cada sombra, cada espuma, o resto não existe; é tudo dentro invadindo você violentamente. Empoça.

Tanto, que encanto é palavra pequena, que amor e ternura, felicidade, contentamento, surrealidade e perplexidade não diziam, não dizem e não dirão do que foi o tal "contato definitivo" que tiveram. Foi por dentro, com poças de gozo dele nela, dela nele.

10 de janeiro de 2012

Suicídio de um pedaço

Abaixa, abaixa, abaixa. Esconde!
Sufoca, vai conformando
que essa parte morre
esse sentimento morre
essa saudade!

Que mais triste do que amputar
é relutar a vida toda
e se cortar, e se cortar
com amor que era para ser poesia
e é dor

Corta quando aperta bem os olhos
em cada soluço, cada vez que junta as mãos
a cabeça baixa, os leves e vagarosos passos

Suicídio de um pedaço que era para ser só amor


9 de janeiro de 2012

II) Depois que a onda passa

Se lindo
era quando
vinha
um medo de
aterrorizar
mortais
enquanto o céu
me ria
azul
Mais lindo
quando ia
a onda, eu via de costas.

Preferia forte
o sangue nervoso
circulava
mais forte
E toda força do mar
se quebrava
em espuma
deixando
meu medo
branco

I) Imensidade, sinônimo de Mar

Não era areia de construção. A primeira vez que o viu foi pela porta traseira do ônibus que se abria a cada três minutos. Descendo no ponto não olhou para o chão, notou o som quem por pura falta de criatividade nunca imaginou se existiria.

E os pés sedentos, iam e vinham com medo. E as ondas intimavam em cada vez que se formavam na água escura que para a os ingênuos olhos se apresentavam. Olhos que recuavam a alma, irritaram todos os pelos do corpo e causava certa irritação na pele que queria se rasgar no meio. Cada onda era um susto, de alguém que vinha lhe dar recado enquanto recuava para voltar de tão louca a necessidade de saber como era...

E a noite caiu coberta de vinho branco com alecrim. Era doce por toda parte do corpo que banhava a alma de quem ardia num quarto trancado com a janela aberta. Lençol amarelo e nenhuma roupa. Sorria tanto que já nem era ela, era tudo o que de mais puro delas foi extraído, vaporizado e disperso no ar.

4 de janeiro de 2012

Por cantos solitários, sozinhos estamos em tudo que é doce ou amargo de nós

Impressiona. Como o amor pode ser coisa tão solitária? A gratidão, a esperança e até mesmo os sonhos. É como se, ao surgirem, dentro do homem todo o resto fosse isolado, como triste e esquálida condição humana.

Os sentimentos são como práticas sensações que rápidas e constantes ingerimos e digerimos com a mistura que acompanham a mesa: a realidade.

É tão rápida e impossível, que a poesia dá sono; a rima curta demais para ser poema. Incutimos a praticidade, a precisão, a necessidade fútil e vendida de não poder, em hipótese nenhuma, errar. Mas os sonhos são altos demais, quase movediços, trapaceiras demais. O canto, a cena, a declamação: descartáveis.

Alguns sopram seus versos, que por baixo custo, passam por um ouvido e outro, vazando amor por debaixo da porta. Mas é fraco demais, é contido demais pra quem vive em outro tom, pra quem o dom é não ser cruel com o mundo, mas pelo mudo ser cruel a si mesmo.