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27 de agosto de 2014

Verdade

Esta noite vi uma obra de arte tão completa e tão linda, que logo depois de vivê-la me veio a sede de te olhar bem de perto e contar tudo o que vi, cada pedaço. 

Vontade, de te contar de como tudo ficou grande dentro de mim, de como reconheci nela a mim. Anseio de ouvir de ti os comentários que sem dúvidas eu concordaria. 

Mas de repente um vento bate no meu olho, ele arde e me diz que isso não é possível mais, que preciso me acostumar a guardar em mim tudo isso.

Já me deixei ir de ti, mas vejo que não te deixei. 

Ainda me debato, resta um nó a prender a minha memória, às vezes até choro. 

Algo me pede, eu sinto: "deixa ela ir", mas ainda sim, com minhas forças te prendo e machuco mais. 

Como faz falta o seu canto, o cheirinho doce, a roupa cheia de pelo que me dava agonia. Fico pedindo pra mim mesma que passe o desejo do teu sorriso, mas ainda não alcancei.

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Aqui, para não dizer à ela.

25 de agosto de 2014



Sabei iluminar, que os passarinhos todos hão de voar para distante de ti- e talvez nem voltem.

Acalme.

É chegado o tempo, de enxergar-se, ir de onde estás. O tempo há de ventar agora, e que a doçura permaneça.

Que tu saibas segurar até as tardes de domingo, quando poderás abrir tuas cortinas, chorar um pouco e recomeçar - até que a ventania passe e tu já estejas maior.

14 de agosto de 2014

Eu, nuvem!

Eu quero subir na asa do avião e subir tão alto, e subir tão longe para não me imaginar mais lá embaixo, chegar no mais alto e sumir – entre uma nuvem e outra -  virar nuvem e não ser mais lembrada, ser mais nada. Quero subir na asa de um pássaro e chegar no infinito, esquecer de quem eu era, de quem queria ser. Quero virar uma nuvem sem nome e sem olho, que paira lá agora e que já já desaparece.

8 de agosto de 2014

foguete

Dentro desse quadro de tanta gente,
tantas mudas, tantas bocas quentes
eu sobrevivi
meu ‘eu’ sobrevive.

Não por ser mais uma gente
muito pelo contrário
Por sofrer em dobro
por ser dramática ao ponto
de tratar em mim
as Dores

Interiorizar, nunca ignorar
amarrá-las
nas costas com um pano qualquer

E seguir


Eu sei o peso desse tratamento
E mesmo em face de total desengano
Trato!
Desgasto,
sobrevivo.

4 de agosto de 2014

Respiro fundo o buraco da ausência do teu abraço. Sinto frio.

A casa de minha mãe lembra você, da grande noite que você escolheu partir. A lealdade que durou o tempo do seu primeiro suspirar, e sumiu.

Deixo que você vá. No mar, enquanto atravesso a água eu solto teu colar. Choro seu adeus na beira da praia que ainda não vejo. Me despeço, meu traiçoeiro amor do passado. Não te romantizo nunca, te despeço apenas pelos lábios.

Vou, sem acreditar que exista algo além. Me mostrastes que tudo perece, assim me vou sem mais - o seu mundo já não interfiro. Esse seu olhar duro que me mira em memória não faz mais parte do meu sonho. Não quero mais que seja.

Vou aprender a lidar com o fardo de suas últimas flechas, vou guardar suas últimas palavras, seu mau humor exclusivo para mim, suas pedradas.

E um dia, as grossas gotas que respingam meu telhado hão de lavar humilde minha alma, minha dor, levar embora minhas lágrimas. Eu sonho com o olho aberto a esperança de esquecer em mim esses dias. Apagar o calafrio do olhar que me moeu em pó, em nada. Eu tirar da memória o pouco caso que fizeram de tudo aquilo que sou.


Mas enquanto tudo isso não se apronta, escrevo. Pra sugar de mim o peso da memória de quando saía cedo de seu beliche e ia trabalhar com o sol raiando, de quando matávamos juntos os insetos invasores, de quando para "o nós" meu sorriso tinha importância. Hoje calo, hoje eu choro mais e só pra mim. Hoje é o primeiro dia que imploro desesperadamente para que não apareças em meus sonhos.c
Lidar com o pequeno e a confusão da cabeça, quanta coisa guarda as correntezas que nos atravessam sem sinais de chegada. O peito ferve.

Tem dias que o calor do céu cozinha o corpo da gente na terra, e o azul que era para ser sorriso esclarece apenas o olhar duro, desvenda o peito feito de pedra e aço que bate de fronte e destrói o resto.

Dias assim vou me empoeirando, a força da correnteza me esbarra, me espalha, me consome.

“Eu li um soneto de amor
Que as lágrimas que tu não chora (Iaiá, Iaiá)
Se escondem num rio dentro de tu”

O soldado do mar fez os cumprimentos na última noite, espumando engoliu, mastigou e devolveu: poeira diluída. Nesta sobra, a sombra da imagem do que um dia fui. E vai sendo muita realidade.


E depois de tanta forma e decomposição, o mar vira gota. Secando. 

1 de agosto de 2014

Porque o instante existe e as notícias vão chegando pertinho da gente pra dizer de um novo tempo. Torno as linhas mais próximas, retomo meu vício de curvar pra dentro, e danço. Uma chuva de novas palavras, nada revive.
Chove do céu minha vida.
O silêncio tem forma, sou eu chegando em casa, observando o pêndulo de pássaros balançando a baixo do batente. Me desespero, a nuvem de água parada lá em cima da cabeça. O pensamento pesa.
A memória ri de mim, choro ela. Perco minha forma enquanto o sol desce, a lua bonita sobe, e o sol sobe; assim a plenitude passa – eu fico. Ao invés de me achar, me perco mais; soluço o susto, revivo todo dia a mesma coisa no peso do pensamento. Quanto pensamento mudo, me envergonho!
Quais serão os limites em ser leal à própria dor? Deixa estar esse tempo, pois nada se faz em casos como este – quando tudo desgasta a pele.
Não basta apenas não estar feliz, a dor de destruir a imagem linda do mar me encerra. Nisto vejo minha única consciência entre essas palavras pequenas. Vai morrendo mais uma parte. Gasto-me.