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16 de dezembro de 2014

Do viver

que é novo
que é único
diferente
profundo

De nova cor
De jeito estranho

Viver de dentro
mas, mais
Mais dentro ainda

Da outra vez que vim
e não lembrava
dessa vez que estou
e não conhecia

O Eu real
que pede ajuda
que a busca escuto
para aprofundar.

Aho!

27 de outubro de 2014

Despedida do Quilombo Caçandoquinha

A despedida no fim de tarde sempre me faz lembrar o quanto ainda sou sua. Oh mar que ilumina e cerca, sempre peço que fique dentro de mim.

Entre neblina, sem muita cor.

27 de agosto de 2014

Verdade

Esta noite vi uma obra de arte tão completa e tão linda, que logo depois de vivê-la me veio a sede de te olhar bem de perto e contar tudo o que vi, cada pedaço. 

Vontade, de te contar de como tudo ficou grande dentro de mim, de como reconheci nela a mim. Anseio de ouvir de ti os comentários que sem dúvidas eu concordaria. 

Mas de repente um vento bate no meu olho, ele arde e me diz que isso não é possível mais, que preciso me acostumar a guardar em mim tudo isso.

Já me deixei ir de ti, mas vejo que não te deixei. 

Ainda me debato, resta um nó a prender a minha memória, às vezes até choro. 

Algo me pede, eu sinto: "deixa ela ir", mas ainda sim, com minhas forças te prendo e machuco mais. 

Como faz falta o seu canto, o cheirinho doce, a roupa cheia de pelo que me dava agonia. Fico pedindo pra mim mesma que passe o desejo do teu sorriso, mas ainda não alcancei.

--
Aqui, para não dizer à ela.

25 de agosto de 2014



Sabei iluminar, que os passarinhos todos hão de voar para distante de ti- e talvez nem voltem.

Acalme.

É chegado o tempo, de enxergar-se, ir de onde estás. O tempo há de ventar agora, e que a doçura permaneça.

Que tu saibas segurar até as tardes de domingo, quando poderás abrir tuas cortinas, chorar um pouco e recomeçar - até que a ventania passe e tu já estejas maior.

14 de agosto de 2014

Eu, nuvem!

Eu quero subir na asa do avião e subir tão alto, e subir tão longe para não me imaginar mais lá embaixo, chegar no mais alto e sumir – entre uma nuvem e outra -  virar nuvem e não ser mais lembrada, ser mais nada. Quero subir na asa de um pássaro e chegar no infinito, esquecer de quem eu era, de quem queria ser. Quero virar uma nuvem sem nome e sem olho, que paira lá agora e que já já desaparece.

8 de agosto de 2014

foguete

Dentro desse quadro de tanta gente,
tantas mudas, tantas bocas quentes
eu sobrevivi
meu ‘eu’ sobrevive.

Não por ser mais uma gente
muito pelo contrário
Por sofrer em dobro
por ser dramática ao ponto
de tratar em mim
as Dores

Interiorizar, nunca ignorar
amarrá-las
nas costas com um pano qualquer

E seguir


Eu sei o peso desse tratamento
E mesmo em face de total desengano
Trato!
Desgasto,
sobrevivo.

4 de agosto de 2014

Respiro fundo o buraco da ausência do teu abraço. Sinto frio.

A casa de minha mãe lembra você, da grande noite que você escolheu partir. A lealdade que durou o tempo do seu primeiro suspirar, e sumiu.

Deixo que você vá. No mar, enquanto atravesso a água eu solto teu colar. Choro seu adeus na beira da praia que ainda não vejo. Me despeço, meu traiçoeiro amor do passado. Não te romantizo nunca, te despeço apenas pelos lábios.

Vou, sem acreditar que exista algo além. Me mostrastes que tudo perece, assim me vou sem mais - o seu mundo já não interfiro. Esse seu olhar duro que me mira em memória não faz mais parte do meu sonho. Não quero mais que seja.

Vou aprender a lidar com o fardo de suas últimas flechas, vou guardar suas últimas palavras, seu mau humor exclusivo para mim, suas pedradas.

E um dia, as grossas gotas que respingam meu telhado hão de lavar humilde minha alma, minha dor, levar embora minhas lágrimas. Eu sonho com o olho aberto a esperança de esquecer em mim esses dias. Apagar o calafrio do olhar que me moeu em pó, em nada. Eu tirar da memória o pouco caso que fizeram de tudo aquilo que sou.


Mas enquanto tudo isso não se apronta, escrevo. Pra sugar de mim o peso da memória de quando saía cedo de seu beliche e ia trabalhar com o sol raiando, de quando matávamos juntos os insetos invasores, de quando para "o nós" meu sorriso tinha importância. Hoje calo, hoje eu choro mais e só pra mim. Hoje é o primeiro dia que imploro desesperadamente para que não apareças em meus sonhos.c
Lidar com o pequeno e a confusão da cabeça, quanta coisa guarda as correntezas que nos atravessam sem sinais de chegada. O peito ferve.

Tem dias que o calor do céu cozinha o corpo da gente na terra, e o azul que era para ser sorriso esclarece apenas o olhar duro, desvenda o peito feito de pedra e aço que bate de fronte e destrói o resto.

Dias assim vou me empoeirando, a força da correnteza me esbarra, me espalha, me consome.

“Eu li um soneto de amor
Que as lágrimas que tu não chora (Iaiá, Iaiá)
Se escondem num rio dentro de tu”

O soldado do mar fez os cumprimentos na última noite, espumando engoliu, mastigou e devolveu: poeira diluída. Nesta sobra, a sombra da imagem do que um dia fui. E vai sendo muita realidade.


E depois de tanta forma e decomposição, o mar vira gota. Secando. 

1 de agosto de 2014

Porque o instante existe e as notícias vão chegando pertinho da gente pra dizer de um novo tempo. Torno as linhas mais próximas, retomo meu vício de curvar pra dentro, e danço. Uma chuva de novas palavras, nada revive.
Chove do céu minha vida.
O silêncio tem forma, sou eu chegando em casa, observando o pêndulo de pássaros balançando a baixo do batente. Me desespero, a nuvem de água parada lá em cima da cabeça. O pensamento pesa.
A memória ri de mim, choro ela. Perco minha forma enquanto o sol desce, a lua bonita sobe, e o sol sobe; assim a plenitude passa – eu fico. Ao invés de me achar, me perco mais; soluço o susto, revivo todo dia a mesma coisa no peso do pensamento. Quanto pensamento mudo, me envergonho!
Quais serão os limites em ser leal à própria dor? Deixa estar esse tempo, pois nada se faz em casos como este – quando tudo desgasta a pele.
Não basta apenas não estar feliz, a dor de destruir a imagem linda do mar me encerra. Nisto vejo minha única consciência entre essas palavras pequenas. Vai morrendo mais uma parte. Gasto-me.




30 de julho de 2014

Quando viver é fuga

(A coisa que nunca fiz, isento-me deste erro.)

O trator de dentro da gente quase sempre mente
Quando viver é fuga:

um não-viver.

22 de julho de 2014

O que não tinha

Os olhos azuis, a pele clara, delicadeza, silêncio
Nada disso tinha
E era essa ausência que eu amava
A falta dessas coisas
Desses tons.

O que não tinha era o que mais enxia de cor seu ar

Não chorasse hoje a perda de sua perfeição jamais existiria
Não lembrasse hoje, não pensasse a ausência da ausência de perfeição
Não seria eu.

E se um dia nada mais me fizer falta, então já não existiremos
Coisa triste é coisa pouca.

21 de julho de 2014

Verbos. 21 de julho, 30.

Ainda não parou de chover, os esgotos ainda entupidos de flores, o céu sombrio. Respirando fundo pela casa, o café fechado na geladeira, o molho de tomate que não teve uso.

Puxa o ar, enquanto tudo molha. a voz úmida gravada completa hoje os 30 dias de enchente. Quanto peso! Deus, em estado de total abandono foi viajar no recesso e deixou o mundo inundar. Em completo abandono, a memória se refaz entre afogamentos.

No primeiro dia de retorno à casa abandonada, recitava Cecília Meireles alto, e escorria, como escorria aqueles olhos. Um gemido como o só de quem carrega um profundo buraco no peito, um vão onde o ar abafa e não circula. Dói.

As paredes brancas, como a areia branca e a roupa branca e os sonhos. Onde estão os caminhos?

30 longas noites, longos dias a fio, silenciosos e silenciados. O mundo não perdoa a dor e Deus está de férias. Seca na cidade inteira e dentro um dilúvio em nó, desfalece. Parece um copioso movimento de morrer e renascer desde o começo. A degeneração existe, a reprodução artificialmente do ser de quem se ergue e cai - nessa ordem. Primeiro por obrigação, segundo por existência.

E não bastasse o peso do mundo, o peso do peso que não desaparece tão cedo. Há inúmeras marcas nas paredes.

Mas mesmo neste estado, há quem compreenda: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/07/fidelidade-ou-blealdadeb.html - Deus entrou de férias, mas deixo um pensador na terra.

18 de julho de 2014

30

O mês, de vez, se fez
tudo
de antes
em
nada

.

O sapatinho vermelho, o cardaço muito grande que fazia nós por não saber o laço, por dentro tudo estava perdido debaixo daquele solado. Diante, mundo que não cabe. Que a vida cumpra seu papel e passe, tão depressa quanto o vendaval cantando qualquer moda brega que já não me faça lembrar os dias no carro da família, as ruas cobertas de hexágonos que percorríamos à beira mar.

30 dias sem a margem infinita de contemplação.


6 de julho de 2014

Não me sabe

Quem nunca viu a porta bater
O cadeado trancar
O tempo estranho fechando
A maré silenciando e a suspensão da noite e do tempo
sob a luz da Lua Vermelha
Não me sabe.
Não me venha.

Não tente entender de renda quem só borda lantejoulas.

Degeneração e espasmo

Quando entrei naquela casa, a primeira coisa que a mente disse foi: onde foram guardados seus pedaços?

Meu coração dilacerado não tocou em nada, observou e esperou. E disse: "Onde está o espelho?". "No guarda-roupa". E ao puxar a porta direita, a voz desesperada dizendo "na estante", denunciava o que o olho via: seu pedaço de texto nos cantos e no plano central das paredes de fundo foram retirados.

Esse foi um pedaço. A madrugada fria com cobertinha separada (outro pedaço), o espasmo das três da manhã, o frio (a degeneração).

O que dói mais do que o silêncio dos pássaros? Uma dor chata. Para quem sente, para quem chora, para quem ouve, para tudo no mundo. São tantos restos, retalhos. Coisas se perdem no eco da geladeira que prevalece.

Quando saí daquela casa pela manhã pedi desculpas, dei-lhe um beijo na testa (por força interna incontrolável) e subi a ladeira como quem corre das madrugadas de neblina. Fui e nunca mais voltei. Nada de lá também voltou.
Houve uma grande queimada na tarde deste sábado, e as cinzas reduziu um mundo em cinzas pretas vagando no espaço do vento, caindo para este meu lado do mundo.

Falta.

Uma formiga morde a ponta distante do menor dedo do pé. Eu, imóvel, sem poder me proteger daquela coisa tão pequena. Enquanto isso, fervo! Saudade daquela. A cara de criança de olhos inchados que tanto admirava, o observar com meio sorriso na cara. E eu, do outro lado alto, brincando de girar trezentos e sessenta graus as nuvens e as ondas. A playlist sempre a mesma, a felicidade sempre nova, a concha!

Pensando bem, a formiga não é tão pequena assim.  Aliás, machuca - e muito!

Apesar da gentileza e o valor nobre das picadinhas tantas vezes sutis, o que fazer se o mar inunda a casa toda hora, se o barulho do avião (tão próximo) não traz o arco-íris para cima de nossas cabeças? Clareia, por favor. Mas enquanto  formiga morde, o pássaro canta e o ventar das árvores balançando folhas. A força do sol batendo na folhagem e o os ecos que surgem no meio do lago. Tudo é falta.

Uma faquinha de mesa cortou as beiradas e fez escorrer, a realidade liquida e filosófica. As minhas crenças, as forças. Embora.

Vai ficando curta a memória e o tempo se estende num chiclete sem açucar, bem grudento. É tanto tempo de tanto silêncio que vira som. E a formiga morde, e a maré encharca as paredes da casa. Vai afogar-me a falta.

1 de julho de 2014

Não culpo a falta de amor, porque muito mais sofre aquele que tenta amar, muito mais que eu mesma - que me vou morrendo e matando a cada despedida. Guardo meu egoísmo por esse instante.

Mas é preciso reabilitar-se, como um viciado. Porque para os demasiadamente boêmios e conselheiros, o prazer da felicidade ainda parece coisa distante. Para mim, um apelo ardente e silencioso que vai explodindo estrelas dentro da gente pelas manhãs.  Quando a luz delas desaparece então é preciso ficar com a sensação do recém-apagão. Não é fácil.  Também não julgo quem nunca amou e tenta um conselho grosseiro, é ainda mais triste.

Mas especialmente hoje, depois de 10 dias de total realidade, eis que meu olho não lacrimejou. Não chorei. Dancei na frente do espelho e vi que de mim já se vai mais uma parte. Vou lapidando pedaço por pedaço.  Ano que vem, mais uma memória.

Na companhia da sopa e a caneca, no fundo do fogão que faço de armário observei aquele suco de limão.  Era pra ela que comprei, junto com o saco de gameleira que, infalivelmente, lhe arrancava um sorriso quando eu lhe enchia o pote.

O colchão inflável da nossa última viagem no canto da cozinha,  sua mala de coisas que vai levar tudinho. Tudo isso já não mais parte de mim.

Não tenho mais 17 anos. Foi o que me disse hoje. Será até onde podemos ir. Muita gente tem me botado medo com a capa do tempo, o tempo que resumiria tudo e afastaria a dor. O tempo, nada mais traidor.
A efemeridade das coisas nas coisas. Pra onde é que esses 6 bilhões de mundos se encaminham? Colisão.

Nesta terça as luzes já dormem todas apagadas, a espera no fim, porque na lógica ela nunca perderia a aula de arte. Sussurro a mim mesma um poema de Cecília, canto Cícero e paro as palavras. Estou cada dia mais distante e a dor física impera. Tirando os olhos roxos e os "bons dias" preocupados, as mensagens de áudio que já me cansam - "E aí Su, como você tá hoje? Te amo". Aff, o amor cansa!

Me protejo, já cheguei nos meus abismos, meus bosques devastados, meu jardim floral. Agora eu transcendo e fico com o que sobrou de mim. É o abandono de minha história.


26 de junho de 2014

Comportas para minha dor

E depois, de dias, de sete dias – ou talvez sete semanas, sete meses de fim (quem saberá isto?) – eis que mesmo recoberta de poesia a ponte permanece caída. Onde estará meu reencontro?

Comigo. É só isso o meu pedido mudo.
(em seguida descubro isto)

Nessa manhã de caos, tratei de me perder pela segunda vez. Do outro lado fiquei, me arrastei, me levei sem eu. Um corpo morto, alma ausente. Eu sem nada.

Me parece tudo um conto, em que porção dobrada, ei de moer meus sonhos. A cada riso, duas pancadas; a cada avanço duas tropeçadas. Onde irei parar? Na minha casa? Na casa de meus familiares? Não sei.
Estendo um pouco mais as palavras, agora não mais a casa, mas o mundo. O mundo todo se encolhe. A espuma dos dias me cobre.

Um dia, quem sabe, eu não torne a ser apenas aquele ser vazio com dor nas costas. Já estaria bom. Seria o fardo base – que a gente sempre suporta.

Por enquanto tudo ruge em volta, enquanto através dos meus olhos vou chorando todo mar que já toquei. Foi tanto mar. Vou desaguando caminho a fora, e me fico entre um surto e outro pedindo comportas, comportas, arrecifes, comportas para minha dor.


Inatingível, só por hoje na minha solidão. Como queria. Ao invés disso, o assombro dos dias na beira do mar, como eles me pesam. A minha beleza do passado me assombra. A minha história me absorve.

25 de junho de 2014

Espalhar

Foi isso o feito. Espalhar. Em cada ombro, em cada soluço, em cada encolhida. Desmontar o corpo sobre o mundo. Sofrer pra dentro e vazar para fora. Não era só choro. Era tudo que vazava, a falta de força, uma tábua ao mar boiando no meio do nada.

Vai ficando ainda mais insuportável a espera, à deriva. E não sendo a fúria sua casa, o que seria então? Onde mora aquele amor que vai hoje martelando pedaço por pedaço, se pergunta. O que seria além de nós? Do nosso egoísmo? Da nossa dor?

Uma fábrica de desmonte instalada nessa morada,  enquanto ela se aprisiona. Lamento, procura, lamento. Será que tudo prende? O que detém o mais puro diante da dor do outro, o cuidado?

24 de junho de 2014

O meu Olimpo

Que me venha vindo, um dia de cada vez. Para me encontrar comigo, com o que sou e mais nada. Sonhei nesta noite que chegava no “Olimpo”. Era restrito com corredeiras de águas por todos os lados. Eu não tocava a água, mas observava como em um desenho. Bem restrito, era do alto que eu olhava o mar, talvez fosse esse o tal sonho celestial – que um dia no trem – aquele desconhecido me prometeria em nome de um deus maior.

São tantos espelhos, depois da espera que não chega, é só o teu nariz em teu nariz. A lembrança daquele sonho que apresentou-me um outro tipo de correnteza. Eu sonhei um sonho novo. A morada sublime da mitologia grega que eu não conhecia antes do sonho. 

E não conhecendo nenhum dos deuses fiquei diante o espelho do eu, que se mergulha. E só.

22 de junho de 2014

Esse sábado de 21 de junho de 2014 foi o dia que descobri que teria que chorar gota por gota o amor que eu sorri nos últimos tempos. O chão sumiu e o calor da terra sumiu junto. Eu vi martelos quebrando por todas as partes meus cristais, e não houve amor em nada, nem consolo, nem morada. Eu vi tantos cacos.  Sem capacidade de serem contados. E tantas gotas caem dos meus  olhos, sumiu a fome enquanto atinjo o fundo. Nada dói mais que o frio depois do quente, a indiferença depois do amor, a maioria mentira depois do sonho.

O jogo sem  ganhadores, mas com jogadas pertinentes e jogadores que não se cumprimentam no final. Enquanto a neblina cobre tudo, tudo arde. O pior aconteceu e o que me resta, nessa lamuria, sem fim e muda, é chora-la, gota a gota por ver o mar violento e desconhecido cobrindo tudo.

Livros novos, leituras instigadas por curiosidades pouco sinceras e falta de amor. As falsas necessidades e um bom leitor de Jean Jacques Rousseau entenderia o que Lavinia fez de nós.

20 de junho de 2014

eu não sei, mas um tempo. Assim se fez.

De cabeça pra baixo, cada dia observo meu mundo mais raso.  Os sons novos, as faixadas novas das casas e o meu novo amanhecer. O corpo não mais engraçadamente na cama, o silêncio e a geladeira me lembrando que está dado o mundo, o real.

Concentro, essa é minha mais nova arte. Calo o mundo lá fora e fico com a lembrança do som da  água batendo de leve na beira da praia... O meu amor na praia pegando só as menores ondas enquanto eu no fundo chamava a um mais profundo mergulho. A memória causa tanto silêncio,  e a gente fruto de tudo dito ente a onda e o hoje.

Tenho deixado raso meu olhar, não há muito que se fazer. Mas tem o belo, o doce e quente perdido no mundo, que talvez, em um novo mergulho, eu alcance de dentro pra fora.

Saudações ao  meu amor, quem sabe daqui uns anos ele não volta.

24 de maio de 2014

Apesar das marcas, frágil como um bebê recém-nascido



Depois que ela disse não me amar mais, o mais lindo perdeu seu sentido, e nenhuma outra palavra (maior ou menor) caberia. Como se o grandioso mar se recolhesse, apenas eu e a areia da praia ficou ali.

Perguntei-me: É possível? Mas já não importaria mais, se fruto de uma cobrança minha, ou se distração sua. A ausência de amor petrifica, e foi assim que entrou a minha última madrugada de sábado.
Depois de horas chorando como uma criança, não achei portas ou saídas. Tudo está dado. O fim de um amor, que em gesto dizia nunca ter fim.
No plano terreno, onde precisava firmar meus pés eu me fiz em cacos. A minha estrela de luz tirada pilha, guardada agora em caixa de coisas antigas. Vejo você escolhendo sair pela porta.
Nesse mundo tão cruel, como podemos dizer adeus às coisas que chamamos de belas? Quem sou eu nessa história, me pergunto. Tudo é silêncio e mais nada. Eu me recolho no centro do quarto, me olho no espelho para ver se ainda estou aqui. Choro, essa é a única consistência que tenho: sou água vazando. Mais nada.
O fim justifica tudo, desta forma, o fim sem sentido subtrai tudo o que a natureza me deu de mais belo, o passado inconsistente se desfaz, não sobra, tudo some.
Talvez, se a vida não se apresentasse dessa forma tudo em mim poderia ser diferente. No fundo, eu sempre quis dividir o que eu sou, e sou exatamente isso.
O choro de um mundo sensível e sem sentido.
Fora de mim, nada é meu. O barulho da geladeira foi o que sobrou, mas nem isso é meu.
Sempre tive medo, mas hoje, com toda certeza, posso dizer que tiraram de mim o apelo da crença. As abstrações mais lindas, nem a lembrança posso tocar. O fim justifica tudo. O final anula o começo. O amor na é areia que some. E se o que tenho some, isto nunca foi amor. Mesmo que seja apenas o caso de não conhecê-lo, hoje eu posso mudar meu discurso, e dizer segura de tudo: o amor não existe.

22 de maio de 2014

15 de fevereiro de 2008

Porque a mudança dos livros de lugar, os papeis, as estantes e as casas exigem movimentos passados - ainda tão presentes. Lembro exatamente do dia, as condições que sobreveio as palavras, as miudezas de cada linha pulada, cada ponto. Seis anos depois, o mesmo movimento de entrega.

O valor real não está nas linhas,
O valor está na entrega
No ganhar, receber.
Cada palavra cantada ao pé da orelha
Fala doce como a chuva
E o bruto é doce.
Diz no claro não saber
E na sombra, revela que te ama!

Estou revelada


SP. 15/02/2008 - 23:15

7 de maio de 2014

... Consciência plena de mim, que permuto sem querer por esses dias. O capitalismo me suga e puxa, resisto. Tô mudando, ô ... mais uma vez eu tô mudando de morada. A realidade pede, eu faço - canso pra ver se amanhã a gente fecha aqui fora pra balanço e comete aqui dentro uma festa, com poesias, poemas e lirismos tais que a modernidade ainda me possa permitir.

Sinto falta do estado natural, a modernidade cansa, as regras e os meios que esse sistema me leva me cansam mais. Se tudo bastasse, a resposta fosse só tirar o crachá, ah meu deus a vida estaria plena, eu seria eu-selvagem e mais nada. Plena consciência de mim, não que eu fique aqui e seja isto e mais nada. Mais uma vez, ô, eu tô mudando de morada.

:(

4 de maio de 2014

Água

Venta. A maré sobe alta até o meu pescoço. Abro tão leve os braços e deixo que o contato pleno aconteça, me entrego sem saídas. No mar eu converso comigo.

Está aqui a resposta, desse todo envolto de vidas e tons dissonantes, de contrastes e entraves que só as águas da plenitude hão de mover. Um ir e vir tão sem querer e natural do externo. A maré me carrega, e de um deslumbrante e novo modo eu me deixo esvair nesse caminho.

Que esse mundo, meu amigo, não cansa de ser diverso e audacioso, ele teima em me arrastar pra dança. São tantos os modos e meios, quando vejo já sou dele. Permito pela fome, fome do alívio, de que me resta no fundo uma raspa de mim a ser compartilhada.

Devaneio longe, que as linhas invisíveis do mar são as minhas, entre o véu do sonho e esse concreto vento. O mar cumpre o papel, entro ao plano livre das analogias, anomia em viver? De que lado fico? Mergulho, pra cair de vez?

Antes disso, a menina aprende a boiar. Tem mais linda vista que essa? O arrepio na cabeça, o abraço mais pleno, algo de alma presente. O passado reaparece - e brinca sorrindo às 20 horas. Vasta, livre, a força física rebate e o plano real torna. Revivo esse momento, a Lua vermelha, o micróbio do samba e a noite linda que desenhamos nossos sonhos na beira do mar.

Água salgada do mar, consciência plena de mim.

9 de abril de 2014

Respeita a tua leveza. Olha, dói um pouco, mas saiba entender de si porque todos os dias precisa-se calçar e descalçar os teus sapatos pelas madrugadas. Um dia eu lhe prometo a paz e o aconchego que todos os dias os olhos tocam no véu da frente, inexistente. Perceba que de todas as coisas, aí dentro nada interfere o outro, nem as ruas ou suas esquinas não iluminadas. Chegará o tempo. De rir-se sem compromisso, de só sentir que é um dia é bom, que vem chegando o sol e a arei fina... Só os teus sonhos tocam essa quimera. Sonha, respeita sua leveza. Suporta, respeita a sua leveza. Vem vindo um novo tempo.

*De quando os dias de mar se aproximam.

27 de fevereiro de 2014

Descompenso, repenso e deixo
Corre o rio, levando
Me recordo, pisco e só a maré existe
É o mar, o que ele quer? O que as ondas querem?
Lá no longe, um peixe, uma planta
Me vem mais ondas, seguro e depois respiro
Olho as espumas brancas, lindas e sorridentes

Eu canto, descompenso, repenso e deixo.


14 de fevereiro de 2014

Pelo sim

Eu me lembro da sensação que tinha quando acordava bem cedo, lá pelas 4:30 da madrugada, com a roupa já separada em cima da mesa. Esses, com toda certeza, eram dias de médico – porque em casa as crianças podiam ser exploradas que fossem, mas não acordavam de madrugada – nem eu e nem minha irmã.

Era um frio diferente acordar esse horário, toda vez que lembro os meus olhos tornam-se grandes baldes de água molhando o tempo. Era tanto o tempo, ela acordava cedinho e saía quando ainda era escuro. É de uma grandeza tamanha acordar pela madrugada, tomar um café, enfrentar a rua sozinha e silenciosa para pegar o ônibus.

Lutar por tão pouco como ela lutava. Penso hoje, como aguentou tanto tempo, ganhando salário de seiscentos reais, de segunda a sábado para pôr o pão na mesa. Eu choro, porque quase nunca tinha doces, saladas ou bolachas gostosas, era tão pouco e ela se matava para nos dar esse pouco.

Hoje, me encoraja lembrar que ela cuidou da senhorinha Anita até a morte, lavou e passou durante tantos anos na casa das gêmeas portuguesas. Ela ia todo dia até a Praça da Árvore ganhar o nosso pão. E o que era dela era só a gente. Eu agradeço em prece silenciosa, desperta um amor tão doce e doído por aquela mulher.

E daí, o sim ____________________________________________

É, eu decidi que vou. Ontem quando a água batia no chão quente eu me lembrei daqueles tempos, foi lembrando desses mesmos tempos que decidi.

Tudo isso que existe hoje a minha frente – que nem você entende, mas acha bonito – são as flores que você plantou, meu amor. E ainda que não saiba, está aqui porque não escolhi ficar.

Tenho em mim todos os seus sonhos, os que você sonhou e os que não deram tempo de sonhar. Por isso somos uma só, porque onde eu estiver os seus sonhos e a sua força estará comigo, lado a lado.

A melancolia dessa dor me alegra. Muitos os baldes junto com tudo, mas o tudo vai vir! E um sincero e silencioso obrigada, porque as maiores grandezas da vida consiste nisso aqui que sinto agora. Talvez você nem saiba. Obrigada mãe!


30 de janeiro de 2014

Pra ficar melhor

Sempre que lembro de mim, quando eu acordo, quando acaba o sonho. Sempre penso que é de mim que nasce tudo, e de tudo quero um pouco mais desenhar e entender.

Enquanto lá fora as passadeiras da cozinha eu percorro, lavo, olho e estico melhor. Preciso fazer tempo, fazer caminhos um pouco mais longos aqui dentro para entender lá fora – o mais complicado.

Procuro aquela música, que toca enquanto meus nervos se retorcem. Depois relaxam um pouco e eu volto a circular as passadeiras da cozinha. Porque lá fora o mundo ainda me enjoa muito fácil, as felicidades e espontaneidades que não tenho.

Tenho acordado assim em dias bons, olho do lado da cama - é meu amor. De olhar escuro ali dentro me vejo, tão querendo mais disso tudo, com açucar, sorvete, gelatina, pizza e tudo. Eu sempre termino chorando mais, e vejo enfim que engordei.

Vejo que dos tempos que eu aqui me vinha, eu era tão menos, e tão mais leve. Hoje tudo parece grandes leques, que eu escolho e eu percorro com tamanha dificuldade que só os pés e as mãos dizem. Hoje eu brinco de dizer que só me conhece aquele que me vê os pés e o colo das mãos, os que sabem reconhecê-los bem ou mal, porque é deles que vem tudo.

Ainda sou incapaz de fazer a performance externa, fica tudo dentro. Porque fora é muito grande o rio, e da cor do rio eu não gosto. Do risco de bichos, de mim, que breve serei um bicho do outro lado da cidade.

O medo. Percorre cada dedo, dobra, cada cheiro que reconheço. Ser bicho entre aqueles outros, tudo de novo, tudo pressionando enquanto parece que cai a cobertura.  O conhecimento, o entendimento, a recuperação, a dependência, eu bicho.
Essa é das partes a que me preocupo. Toco um desaforo do Cazuza, não resolve. Do meu mundo eu sou a maior complicação, porque sempre paro pra pensar no que é a vida, no que é a dor, no que é o passado e o lá na frente, pra viver na mente acordada a interrogação de mais um sonho.

Tenho saudade do mar, da água calma e do meu deslumbramento diante dos peixes. Amorteço os dias e penso que lá na frente eu vou voltar no mar. Daí estarei sendo bicho “da federação”. Fico feliz e triste, é grande e é pequeno ao mesmo tempo. Confronto a realidade e vejo, não tem como resolver.

Pra ficar melhor eu paro, que isso já não resolve.



Brinco de que não sou eu, mas sou eu falando de um outro alguém. Vou, volto sem o compromisso de nada. O novo sempre assusta, é dele que as passadeiras fogem, é para ele que se vai.