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6 de julho de 2014

Falta.

Uma formiga morde a ponta distante do menor dedo do pé. Eu, imóvel, sem poder me proteger daquela coisa tão pequena. Enquanto isso, fervo! Saudade daquela. A cara de criança de olhos inchados que tanto admirava, o observar com meio sorriso na cara. E eu, do outro lado alto, brincando de girar trezentos e sessenta graus as nuvens e as ondas. A playlist sempre a mesma, a felicidade sempre nova, a concha!

Pensando bem, a formiga não é tão pequena assim.  Aliás, machuca - e muito!

Apesar da gentileza e o valor nobre das picadinhas tantas vezes sutis, o que fazer se o mar inunda a casa toda hora, se o barulho do avião (tão próximo) não traz o arco-íris para cima de nossas cabeças? Clareia, por favor. Mas enquanto  formiga morde, o pássaro canta e o ventar das árvores balançando folhas. A força do sol batendo na folhagem e o os ecos que surgem no meio do lago. Tudo é falta.

Uma faquinha de mesa cortou as beiradas e fez escorrer, a realidade liquida e filosófica. As minhas crenças, as forças. Embora.

Vai ficando curta a memória e o tempo se estende num chiclete sem açucar, bem grudento. É tanto tempo de tanto silêncio que vira som. E a formiga morde, e a maré encharca as paredes da casa. Vai afogar-me a falta.

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