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6 de julho de 2014

Degeneração e espasmo

Quando entrei naquela casa, a primeira coisa que a mente disse foi: onde foram guardados seus pedaços?

Meu coração dilacerado não tocou em nada, observou e esperou. E disse: "Onde está o espelho?". "No guarda-roupa". E ao puxar a porta direita, a voz desesperada dizendo "na estante", denunciava o que o olho via: seu pedaço de texto nos cantos e no plano central das paredes de fundo foram retirados.

Esse foi um pedaço. A madrugada fria com cobertinha separada (outro pedaço), o espasmo das três da manhã, o frio (a degeneração).

O que dói mais do que o silêncio dos pássaros? Uma dor chata. Para quem sente, para quem chora, para quem ouve, para tudo no mundo. São tantos restos, retalhos. Coisas se perdem no eco da geladeira que prevalece.

Quando saí daquela casa pela manhã pedi desculpas, dei-lhe um beijo na testa (por força interna incontrolável) e subi a ladeira como quem corre das madrugadas de neblina. Fui e nunca mais voltei. Nada de lá também voltou.
Houve uma grande queimada na tarde deste sábado, e as cinzas reduziu um mundo em cinzas pretas vagando no espaço do vento, caindo para este meu lado do mundo.

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