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21 de julho de 2014

Verbos. 21 de julho, 30.

Ainda não parou de chover, os esgotos ainda entupidos de flores, o céu sombrio. Respirando fundo pela casa, o café fechado na geladeira, o molho de tomate que não teve uso.

Puxa o ar, enquanto tudo molha. a voz úmida gravada completa hoje os 30 dias de enchente. Quanto peso! Deus, em estado de total abandono foi viajar no recesso e deixou o mundo inundar. Em completo abandono, a memória se refaz entre afogamentos.

No primeiro dia de retorno à casa abandonada, recitava Cecília Meireles alto, e escorria, como escorria aqueles olhos. Um gemido como o só de quem carrega um profundo buraco no peito, um vão onde o ar abafa e não circula. Dói.

As paredes brancas, como a areia branca e a roupa branca e os sonhos. Onde estão os caminhos?

30 longas noites, longos dias a fio, silenciosos e silenciados. O mundo não perdoa a dor e Deus está de férias. Seca na cidade inteira e dentro um dilúvio em nó, desfalece. Parece um copioso movimento de morrer e renascer desde o começo. A degeneração existe, a reprodução artificialmente do ser de quem se ergue e cai - nessa ordem. Primeiro por obrigação, segundo por existência.

E não bastasse o peso do mundo, o peso do peso que não desaparece tão cedo. Há inúmeras marcas nas paredes.

Mas mesmo neste estado, há quem compreenda: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/07/fidelidade-ou-blealdadeb.html - Deus entrou de férias, mas deixo um pensador na terra.

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