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26 de junho de 2014

Comportas para minha dor

E depois, de dias, de sete dias – ou talvez sete semanas, sete meses de fim (quem saberá isto?) – eis que mesmo recoberta de poesia a ponte permanece caída. Onde estará meu reencontro?

Comigo. É só isso o meu pedido mudo.
(em seguida descubro isto)

Nessa manhã de caos, tratei de me perder pela segunda vez. Do outro lado fiquei, me arrastei, me levei sem eu. Um corpo morto, alma ausente. Eu sem nada.

Me parece tudo um conto, em que porção dobrada, ei de moer meus sonhos. A cada riso, duas pancadas; a cada avanço duas tropeçadas. Onde irei parar? Na minha casa? Na casa de meus familiares? Não sei.
Estendo um pouco mais as palavras, agora não mais a casa, mas o mundo. O mundo todo se encolhe. A espuma dos dias me cobre.

Um dia, quem sabe, eu não torne a ser apenas aquele ser vazio com dor nas costas. Já estaria bom. Seria o fardo base – que a gente sempre suporta.

Por enquanto tudo ruge em volta, enquanto através dos meus olhos vou chorando todo mar que já toquei. Foi tanto mar. Vou desaguando caminho a fora, e me fico entre um surto e outro pedindo comportas, comportas, arrecifes, comportas para minha dor.


Inatingível, só por hoje na minha solidão. Como queria. Ao invés disso, o assombro dos dias na beira do mar, como eles me pesam. A minha beleza do passado me assombra. A minha história me absorve.

25 de junho de 2014

Espalhar

Foi isso o feito. Espalhar. Em cada ombro, em cada soluço, em cada encolhida. Desmontar o corpo sobre o mundo. Sofrer pra dentro e vazar para fora. Não era só choro. Era tudo que vazava, a falta de força, uma tábua ao mar boiando no meio do nada.

Vai ficando ainda mais insuportável a espera, à deriva. E não sendo a fúria sua casa, o que seria então? Onde mora aquele amor que vai hoje martelando pedaço por pedaço, se pergunta. O que seria além de nós? Do nosso egoísmo? Da nossa dor?

Uma fábrica de desmonte instalada nessa morada,  enquanto ela se aprisiona. Lamento, procura, lamento. Será que tudo prende? O que detém o mais puro diante da dor do outro, o cuidado?

24 de junho de 2014

O meu Olimpo

Que me venha vindo, um dia de cada vez. Para me encontrar comigo, com o que sou e mais nada. Sonhei nesta noite que chegava no “Olimpo”. Era restrito com corredeiras de águas por todos os lados. Eu não tocava a água, mas observava como em um desenho. Bem restrito, era do alto que eu olhava o mar, talvez fosse esse o tal sonho celestial – que um dia no trem – aquele desconhecido me prometeria em nome de um deus maior.

São tantos espelhos, depois da espera que não chega, é só o teu nariz em teu nariz. A lembrança daquele sonho que apresentou-me um outro tipo de correnteza. Eu sonhei um sonho novo. A morada sublime da mitologia grega que eu não conhecia antes do sonho. 

E não conhecendo nenhum dos deuses fiquei diante o espelho do eu, que se mergulha. E só.

22 de junho de 2014

Esse sábado de 21 de junho de 2014 foi o dia que descobri que teria que chorar gota por gota o amor que eu sorri nos últimos tempos. O chão sumiu e o calor da terra sumiu junto. Eu vi martelos quebrando por todas as partes meus cristais, e não houve amor em nada, nem consolo, nem morada. Eu vi tantos cacos.  Sem capacidade de serem contados. E tantas gotas caem dos meus  olhos, sumiu a fome enquanto atinjo o fundo. Nada dói mais que o frio depois do quente, a indiferença depois do amor, a maioria mentira depois do sonho.

O jogo sem  ganhadores, mas com jogadas pertinentes e jogadores que não se cumprimentam no final. Enquanto a neblina cobre tudo, tudo arde. O pior aconteceu e o que me resta, nessa lamuria, sem fim e muda, é chora-la, gota a gota por ver o mar violento e desconhecido cobrindo tudo.

Livros novos, leituras instigadas por curiosidades pouco sinceras e falta de amor. As falsas necessidades e um bom leitor de Jean Jacques Rousseau entenderia o que Lavinia fez de nós.

20 de junho de 2014

eu não sei, mas um tempo. Assim se fez.

De cabeça pra baixo, cada dia observo meu mundo mais raso.  Os sons novos, as faixadas novas das casas e o meu novo amanhecer. O corpo não mais engraçadamente na cama, o silêncio e a geladeira me lembrando que está dado o mundo, o real.

Concentro, essa é minha mais nova arte. Calo o mundo lá fora e fico com a lembrança do som da  água batendo de leve na beira da praia... O meu amor na praia pegando só as menores ondas enquanto eu no fundo chamava a um mais profundo mergulho. A memória causa tanto silêncio,  e a gente fruto de tudo dito ente a onda e o hoje.

Tenho deixado raso meu olhar, não há muito que se fazer. Mas tem o belo, o doce e quente perdido no mundo, que talvez, em um novo mergulho, eu alcance de dentro pra fora.

Saudações ao  meu amor, quem sabe daqui uns anos ele não volta.