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27 de janeiro de 2017

Flores para o mar

Sempre no início de ano faço aquela cartinha marota pra sonhar um pouco com coisas boas que desejo em minha vida. Em 2017, a turbulência foi tamanha que fiquei rouca, que perdi as horas, as contas, a firmeza. Não costurei sonhos.

Fui ao mar duas vezes bater cabeça com as ondas. Acampei. Voltei de lá com a pele em chamas, sem amor, com dor e confusão.

Daí então passou uns dias e eu escolhi fazer bonito, tentar manter o que acredito (na verdade, esse já era um velho padrão). Ser só ombro, ser só abrigo, ser só sorriso. Mas não tem navio que não naufrague nesse descompasso existencial. Estava nitidamente perdendo meu ritual de passagem para os velhos padrões.

E então, 27 dias depois. Cá estou neste lugar. Lembrando que eu insisti mais e, ainda sim, tornei a me perder no mar.

Parece carma, mas também reconheço que também falta-me vergonha na cara. Dessa vez já sabia no que ia dar. Então dei os remos, então dei a jangada, dei as flores, dei tudo.

Me joguei no desconhecido. Rompi um padrão, regredi três. Acho que fui rápido demais. Hoje eu peço só calmaria. Peço amor, peço paz. Peço que ainda me dê o mar aquele tempo de me cuidar, de me abraçar – porque de todas as coisas que nunca poderia me negar era esse abraço meu, tão profundo. Me deixar ficar em mim.

Ei Saturno, sei que estás aí regendo Vênus... Sim, a energia já está no teto.

E como meu negócio é desaguar, tecendo aqui meus sonhos eu entrego ao mar essas flores que plantei. Elas podem seguir e florescer fora da minha jardineira. Não cabe mais. Vai lá.

7 de agosto de 2016

amor que me carrega

Não vou negar que me falta uma colher de sopa de humildade, uma tigela talvez. Mas é que me é meio inconcebível ver um cabide no lugar do mesmo que me escrevia cartas e jogava flores. Continua me faltando humildade, mas a ponderação é mais que necessária. A gente quando anda meio deslumbrado aprecia pássaros no céu voando, mas não percebe formigas e pequeninos insetos sendo esmagados por nossos próprios pés.
Outro dia minha irmã me disse distraída, em meio a um desabafo pessoal, que muitas vezes o que nos faz sofrer é não aceitar que as pessoas podem seguir bem e felizes sem nós. Claro que a pancadaria subjetiva que se instalou em minha mente foi a sirene do amor incondicional que estava até então fora da jogada. E mesmo não olhando pela janela do doente cachorro vira lata, ser capaz de fazer manter o carinho pelos pés desatentos que nos pisoteiam, o fazem lembrar sem querer Boa noite

28 de março de 2016

São Pedro

Dos ventos do Equador, dos Andes
São Pedro, sagrada medicina veio até mim, desconstruir...
No mesmo vento de cura vieram muitas respostas e ainda mais perguntas.
Respeito pela honra de consagrar mais um coração sagrado que pulsa na mãe terra -sagrado cacto. Alinhado com um lindo temazcal, minha sincera gratidão 🙏

29 de dezembro de 2015


Perdoar nossas próprias imperfeiçoes, trabalhar no silêncio e reproduzir só a luz, para a luz. Em ti, tu já te bastas.
Que saibas respirar esse poder de vida que é o teu existir, teu respirar. Haja luz no centro dos teus pensamentos, haja cor nas tuas noites, haja paz nos desafios, haja o deus desperto diante destes olhos.

23 de julho de 2015

Ver.

É doloroso visitar seus esgotos, seus mais profundos buracos, mas ainda sim, como é maravilhoso sair da ignorância de suas obsessões. Sim obsessões, que tantas vezes não parecem mais que cuidado, que personalidade, às vezes até “dom”. Gratidão ao Grande Espírito, a Deus e às medicinas sagradas por iluminar, pela generosidade de apresentar aquilo que é real.

30 de junho de 2015


Construído o castelinho de areia, vento sopra nas flores. E vai nesse tempo ventando a alegria da certeza, a presença, inseto que boia na piscina e a indisposição. Desculpe, Marina, estou indo à praia sozinha dessa vez.
Dando um tempo nos castelos.

24 de junho de 2015

cptm 18:38 - 03/06

Que guerra é essa que vivemos
Soldados em peso
Armados, vestidos de marrom nas paradas.
Que guerra é essa que não vemos?
A todo tempo gente armada.
Mas e eu, sem nenhuma bala?
Mas e nós?
Estação parada.

sagrado feminino

Que festa seja feita com o sangue
O único que não vem da morte ou da guerra.
Vida, festa e purificação.
A lua brilha alta.
Gratidão!

19 de junho de 2015

ciclo.

Tudo passa, Tonho. Passa rápido. Depressa como foguete, brilhando feito um balão. E quando a gente cansa, Tonho, já não dá tempo, passou o ano. Virou o calendário. Um ano que encerrou.

1 de junho de 2015

Claridade

Quem bate à porta não quer mais do que já sabem todos os moradores do condomínio. Deixar entrar. Não quer quem entra, só quer deixar passar e consumir com poeira o chão da sala, o café na toalha da mesa, a cama de hospital (expressão alheia reproduzida sem identificação).

Silenciar, fumacear. Fumacear e beber água, muita água. Escritório de palavras, tetos, pedaços de fixações nos detalhes do canto da casa. A vista abrangente de uma janela que nas noites se trancam de medo.

Spray de cheiro desconhecido para despistar nas frestas. Fumaceado o ar.

Onde colocar meu rosto? Como segurar os dedos, o teto repleto de objetos delicados pendentes? Quantos outros já bateram à esta porta antes desta mais nova chegada? Onde estarão todos dentro daquele claro rosto? Claridade...

Abranda, cutuca, estimula. Ri tanto, transfere o tom, o som, o vento, a brisa. Me consome.
Autocontrole.

30 de janeiro de 2015

Limbo

Eu penso dois, você joga um
Eu rio, você resmunga
Eu falo da beleza do mar, você mergulha e afunda
Eu olho pra lua, você seca e abraça a garrafa.
Eu choro, você ri
Eu falo, você dá as costas
Eu sou eu, você sumiu.

Eu penso dois, você joga um
Eu divido, você reparte e separa
Eu planejo, você toca o barco
Eu me mostro, você muda
Eu atravesso a cidade, você cansa de mim
Enquanto sorrio você fecha a cara.

Sem equilíbrio, meu barco é o que vira e se reparte no mar. As minhas gotas na maré rasa e o meu silêncio.

Você fica, agora sou eu que vou.

*Do peso que já passou.