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25 de junho de 2011

Oração (estilo reality show)

Queria testar a fé, só por isso também. Nem se deu o trabalho de ajoelhar (por que precisaria, se por dentro estava tão revoltada?), deitou rápido na cama e se enrolou nas duas cobertas. Expirou um pouco mais intensamente, estava de certa forma nervosa.
Era como ver a vida toda apregoada de desgraça e maledicência, muita maledicência. Blocos caindo um a um, mesmo sendo a única confiante na justiça que vem das sublimes e tão sagradas nuvens.
Não demorou muito, trincava os dentes; os pelos do corpo todos arrepiados enquanto ela pensava nos últimos quatro meses. Antes que pensasse mais fez uma rápida prece (se é que era): por aquilo que carregava no peito, pelos de perto e por aqueles de mais longe. Não lembro de tê-la visto fazendo o sinal da cruz, nem falando amém, nem se virando na cama (como faz sempre, até achar uma posição cômoda e dormir).
Inspirou, expirou (profundamente); cobriu os ombros e ficou olhando um bom tempo para o teto. Acho que pensava em desistir de tentar fazer aquilo novamente, afinal, nada havia mudado (ou os ateus de plantão estavam lhe 'emprestando' dúvidas?).

Quando não faz sentido pratica isso, nada parece mudar! Justificando assim os suicidas, os depressivos, os mortos, "os vivos". Faltam muitas respostas para essas almas.


24 de junho de 2011

Flores ao mar!

Como sempre: violento. O mar é uma costura de ondas sem linhas, com cem homens e cem mil sereias que navegam a vida inteira águas desconhecidas. São encantos e desencantos, e quando os homens acabam, restam apenas sereias... Sereias não entendem de flores, de ramos, de apego e de terra firme. Não sabem (e nunca vão saber) porque essa é a vida, e elas, de outra atmosfera! Elas vivem contos de amor, submersas em águas violentas, violentadas por homens (rudes, cheios de regras). Ninguém se vê sereia, mas todas são. Por encanto e desencanto: sereias choram. Sereias se afogam em águas, em suas próprias águas... Porque sereias não gostam de homens, são mulheres que choram sempre por serem sereias, são aos teus olhos, apenas flores ao mar.

22 de junho de 2011

Na 1ª pessoa (5) - Kriptonita

Você cabe aqui dentro, com seus infinitos demônios e anjos (quando te chamo), porque de alguma maneira te abri uma porta que não sei como fechar, não agora!
Bate um vento suave às vezes, que hora me enfraquece, hora me envaidece de ser e ouvir aquilo que vês em mim...

É uma estranha montanha russa, e eu sempre tive medo de altura - você sabe (você viu antes de te contar). Me assusta sua capacidade quase ávida de me desvendar nas palavras (não sei se queres, mas o faz de maneira que me encanto pela raiva que me causa).

Me causa tanta coisa, e quando vejo já sou um resultado seu; quando vejo estou falando e gesticulando como uma louca na sua frente! Sua grosseria me traz risos, não me acanho- sinto esquentar e esfriar e reesquentar...

Você, sem perceber me dá a liberdade de criar loucuras, com a desculpa de que preciso viver.

Tento me enganar, fingindo me resguardar de um encanto, mas é impossível! Na minha confusão, na minha estranheza as palavras revelam o encantamento, do tipo que sente dor e prazer no mesmo tempo...
A gente descobre que a pele sensível encontra outra pele sensível, elas se chocam e ardem desesperadamente. Lá fora está tudo em desordem, aqui dentro as portas abertas abrigam seus infinitos "eus" enquanto nossa loucura se cumprimenta sem nenhum beijo.

É tudo à minha maneira, que também duvido que exista... Te olho com uma muralha do tamanho do mundo, acredito que nunca vou passar por ela: E mais eu quero, e mais me apoiam (meu próprio querer e meu próprio medo).

Kriptonita...

Até meus fios de cabelo mudaram em nossa realidade impactante, que me enfraquece e me põe na ponta de um penhasco. Paixão é palavra pouca, pequena pra dizer, o medo me move...
Sem perceber, sem racionar (porque não faço mais isso, tudo é instinto) eu caminho praí!

18 de junho de 2011

O Outono trouxe...

...
Sombras:
para algumas árvores

Cantigas:
aos novos enamorados

Acolhimento:
para os híbridos desconsolados...

O Outono trouxe o que aquele de antes não trouxe, uma cor púrpura na boca dos desenhos;

luz para ver o branco do olho negro, negro no meio do rosto de um antigo segredo!

Luz e tom, som e devaneio!
Outono trouxe um novo paradoxo: um sentido contraditório para nosso senso comum
Uma poeira que faz arder os olhos, um novo conflito que ainda não se diz a que veio!
Outono veio com um QUE de porquê, de usura, de depois de depois...

Outono veio dançando flores no chão, veio fantasiando as mentes, levando e trazendo gente!

Levantou então o queixo, sentiu certa estranheza mas fingiu não notar... Essa tal atmosfera que se cria, de uma forma tão proporcional à equação que a equação propõe.
Brincando com a mente das pessoas O Outono é a estrada-limite da temperatura interna e externa, entre verão e inverno divide um sorriso e um soluço...

Podemos chamar então, vulnerabilidade?
Outono trouxe isso e mais um pouco daquilo que ainda não deu para entender.

16 de junho de 2011

Na 1ª pessoa (4) - Pela bagatela do seu sorriso...

eu me fiz aí! Me vês como estou ou apenas estou?

Sinto como se estivesse em outra atmosfera, irônica, displicente com futuro e tão encantadora... Minha estrada de flores, que enfeito com palavras e fé de que se pode sorrir livremente nesse mundo.
Sou um miúdo, com miúdo sonho, miúdo desejo. Sacio perspectivas ao contá-las, não chego a consumir quase nenhuma.
Por hora, acho linda a incidência de luz e sombra pelos cômodos da casa, refletem discretamente a alma daquele que abre a janela.
No silêncio mora meu conforto (tem morado), na piada erótica meu humor verdadeiro transparece. Uma mente vadia, que não se prende a nada, que não quer nada - quer tudo!
Dentro desse cubo simplista, dessa margem floreada por mim. Não procuro um espelho para me refletir, procuro gente para dividir minhas miudezas infantis, ainda puras, carentes...

Faço e vivo isso, pela bagatela de um sorriso, sorriso meu e de meus anjos


13 de junho de 2011

Ciranda do Amor

Esvoaçar:
Levantar voo
Agitar-se
Felicidade:
Muito
Pouco
Nada!
Vontade:
Coragem
Medo
Intensidade:
Força
Violência
Dor
Prazer:
Interno
Contínuo
Vício
Tênue:
Leve
Frágil
Fraco


É uma verdadeira ciranda, ida e vinda sincopada como samba. Te faz dançar, chorar, faz rir;
é como droga, como êxtase!
Acontece de dentro pra fora, ninguém impede, barra ou coreografa...
amor é como suspender a alma e amputar o cérebro.

12 de junho de 2011

Pessoas que se impressionam com facilidade são:

Na maioria das vezes, vítimas de decepções inconsoláveis causadas pela fé em demasia; são cães que pensam farejar bem, mas que na verdade andam sobre um monte de cacos, sangrando por todos os poros e repudiando a si mesmo.

Quase sempre lhes bastam apenas um cheiro ou um detalhe, o encantamento acontece e o resto a purpurina garante! Um recorte, um retrato, alguns versos, olhares e desperdício de fé...

Acontece que o mundo não é feito de recortes, não é num pedaço que alguém escolheu que tudo será explicado, esclarecido e entregue puramente à razão do todo!
Um colírio que seu suor produz, expelindo o estranhamento na urina e tornando ao vomito que tem gosto de pimenta de amendoim boliviana.
Pessoas que se impressionam com facilidade temem muito, e de tanto temerem passam a não temer nada; a querer tudo, dar tudo, pedir tudo, esperar e chamar tudo. Se perdem...

A fé em demasia... Ridiculamente clichê em sua poética não entendem o que é ser homem, mulher; que viver é rasgar ou sangrar. Viver é um parto diário, de risco sempre: De matar, morrer ou nascer.
De ser bom, de querer mau, de desejar, de odiar. Plantar e arrancar...

Deslumbrar é então pecado! Impressionar é então pecado!

O parto diário compreende experiências que TODOS estão sujeitos, então impressionar-se por um detalhe pode ser como acreditar num feto que se aborta no dia que se cansa, não seria?
Seria abortar a si mesmo! Aborto coletivo... aborto!

Pessoas que se impressionam apegam-se a detalhes em constante transformação, em partos alheios (de fetos que nascem ou morrem), deixando se levar junto deles (ao céu, ao sangue, ao infinito...)
Deslumbramento é quase um prelúdio de morte!



8 de junho de 2011

Na 1ª Pessoa (3) - "Politicamente Correta"

Primeiro que não sou, segundo que não quero ser! Das coisas que minha mãe ensinou, as que mais lembro são: "não roube, não mate, trabalhe e arrume um marido". Essa última foi a mais latente, mas não arrumei.
Nunca soube ser "correta" como eles pedem e esperam que eu seja! Sou na verdade o avesso do que deveria; cantoria de louca, escrevo como louca e para loucos - sou, estou e procuro o direito de ser eu sem precisar dizer se estou sendo "politicamente correta".
Minha mente é um rio violento, minhas veias saltando nas mãos e nos pés mostram a força do vento.
Nunca quis assumir meus vazios, mesmo quando falava deles, o tempo todo quis praticar o desapego de minhas mágoas, mas vejo hoje que não consegui...
Agradeço ao céu por isso, afinal, essa é a condição humana, estou sendo normal em escrever tais palavras, visto que não se recebe manual para viver na terra de gigantes.
Não tenho ódio deles, eles para mim são gigantes que mandam nas terras, mas ainda sim não limitam minhas palavras...
Gosto de escrever quando meu corpo pede, fico tentando descobrir o que me arde e onde está a ponte que me dará motivos de transcrever minhas sensações dando espaço para que um outro leia-me.
Já falei que não sou "politicamente correta", se o fosse não escreveria na 1ª pessoa, não postaria nesse canto. Se eu fosse "politicamente correta" pararia na 1ª página azul (estou na 3ª), mas não sinto vontade de parar agora.
Ser isso, que eu escrevo e releio, é como partilhar o que sou comigo mesma. Deixo que os meus sentimentos corram livremente, sem censuras; transcrevo-os, releio todos para me entender (o que de fato, funciona) e me sinto aliviada.
Depois, releio tudo novamente; cheia de sede e vontade de preenchimento. Grifo alguns trechos, constato meu isolamento do mundo, e quando vejo que para mim isso fez sentido: publico no blog...
Não é "politicamente correto", deveria estar lendo o caderno de economia, escrevendo lides, vendo mapas, estudando história e aprendendo a falar inglês (deveria mesmo?)...
Mas não sou "politicamente correta", por isso encho de vírgulas meus textos, escrevo livremente de forma conotativa, acrescento segredos e excluo fatalidades. Faço isto a minha forma sabendo que a consequência é ser censurada, muitas vezes por mim mesma.
Meus livros, a minha lista é curta como minhas pernas; meu conhecimento de política é curto como meu sobrenome.
Sofri muito (e ainda sofro) por agir assim, tão diferente, e mesmo que não julgada como "não politicamente correta": diferente!

Essa é a hora que eu respiro, com sorte alguém lê, por milagre alguém entende. Não quero nada além de mim, minha produção é egoísta como eu, narcisista em alguma coisa na vida, tentando resgatar meus valores de individualidade!

*Eu, no Parelheiros lotado às 23hs, dia 7 de junho...

7 de junho de 2011

Na 1ª pessoa (2)

Os vidros embaçados, os riscos e os traços dos dedos que os arranharam de gastura. Suor no rosto e no corpo todo, hora faz frio, hora faz calor; hora faz frio e calor no mesmo corpo.
Agora, a ponta dos dedos estão quentes como brasas, como gravetos que incendeiam-se em tamanha ânsia em faiscar.
Os músculos das mãos parecem falar, parecem querer algo ainda fora de alcance
As pernas cruzadas, rígidas de regras sociais que as ensinaram, de controle que tenta exercer...
Os braços se articulam delicadamente, tocam outros corpos e a permitem respirar mais de seu próprio calor.
Como se finalmente abrisse as portas que rangem, a luz entra por todo batente que cai; para que janelas se já houvera escancarado a porta?
A fala, o gesto das mãos, os olhos que já não se abaixam mais!
Que não lhe seja dado nome, que seja puramente isso. Nem para um nem para outro, que nem todos vejam o que também pouco importa. Leve como folha que cai de árvore, ardente como chama de fogueira, límpida como o ar que não se vê!

Entender? Para que entender aquilo que está em constante transformação?

O prelúdio acontece sempre, não se faz ou projeta, ele acontece! Enquanto isso os ossos alarguessem, a maçã do rosto toma forma, coisas arredondam outras se esticam; o sonho das asas acabam, as fábulas...
A melhor parte é ver, é enxergar-se no espaço e ver que você é o grande agente da sua vida; que a liberdade se pratica todos os dias, a paixão pelas coisas, o brilho, a penumbra...
Eles brilham diferente hoje, tem mais vida esses olhos, e dizem que este é mais um prelúdio do que vem...