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1 de julho de 2014

Não culpo a falta de amor, porque muito mais sofre aquele que tenta amar, muito mais que eu mesma - que me vou morrendo e matando a cada despedida. Guardo meu egoísmo por esse instante.

Mas é preciso reabilitar-se, como um viciado. Porque para os demasiadamente boêmios e conselheiros, o prazer da felicidade ainda parece coisa distante. Para mim, um apelo ardente e silencioso que vai explodindo estrelas dentro da gente pelas manhãs.  Quando a luz delas desaparece então é preciso ficar com a sensação do recém-apagão. Não é fácil.  Também não julgo quem nunca amou e tenta um conselho grosseiro, é ainda mais triste.

Mas especialmente hoje, depois de 10 dias de total realidade, eis que meu olho não lacrimejou. Não chorei. Dancei na frente do espelho e vi que de mim já se vai mais uma parte. Vou lapidando pedaço por pedaço.  Ano que vem, mais uma memória.

Na companhia da sopa e a caneca, no fundo do fogão que faço de armário observei aquele suco de limão.  Era pra ela que comprei, junto com o saco de gameleira que, infalivelmente, lhe arrancava um sorriso quando eu lhe enchia o pote.

O colchão inflável da nossa última viagem no canto da cozinha,  sua mala de coisas que vai levar tudinho. Tudo isso já não mais parte de mim.

Não tenho mais 17 anos. Foi o que me disse hoje. Será até onde podemos ir. Muita gente tem me botado medo com a capa do tempo, o tempo que resumiria tudo e afastaria a dor. O tempo, nada mais traidor.
A efemeridade das coisas nas coisas. Pra onde é que esses 6 bilhões de mundos se encaminham? Colisão.

Nesta terça as luzes já dormem todas apagadas, a espera no fim, porque na lógica ela nunca perderia a aula de arte. Sussurro a mim mesma um poema de Cecília, canto Cícero e paro as palavras. Estou cada dia mais distante e a dor física impera. Tirando os olhos roxos e os "bons dias" preocupados, as mensagens de áudio que já me cansam - "E aí Su, como você tá hoje? Te amo". Aff, o amor cansa!

Me protejo, já cheguei nos meus abismos, meus bosques devastados, meu jardim floral. Agora eu transcendo e fico com o que sobrou de mim. É o abandono de minha história.


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