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30 de janeiro de 2014

Pra ficar melhor

Sempre que lembro de mim, quando eu acordo, quando acaba o sonho. Sempre penso que é de mim que nasce tudo, e de tudo quero um pouco mais desenhar e entender.

Enquanto lá fora as passadeiras da cozinha eu percorro, lavo, olho e estico melhor. Preciso fazer tempo, fazer caminhos um pouco mais longos aqui dentro para entender lá fora – o mais complicado.

Procuro aquela música, que toca enquanto meus nervos se retorcem. Depois relaxam um pouco e eu volto a circular as passadeiras da cozinha. Porque lá fora o mundo ainda me enjoa muito fácil, as felicidades e espontaneidades que não tenho.

Tenho acordado assim em dias bons, olho do lado da cama - é meu amor. De olhar escuro ali dentro me vejo, tão querendo mais disso tudo, com açucar, sorvete, gelatina, pizza e tudo. Eu sempre termino chorando mais, e vejo enfim que engordei.

Vejo que dos tempos que eu aqui me vinha, eu era tão menos, e tão mais leve. Hoje tudo parece grandes leques, que eu escolho e eu percorro com tamanha dificuldade que só os pés e as mãos dizem. Hoje eu brinco de dizer que só me conhece aquele que me vê os pés e o colo das mãos, os que sabem reconhecê-los bem ou mal, porque é deles que vem tudo.

Ainda sou incapaz de fazer a performance externa, fica tudo dentro. Porque fora é muito grande o rio, e da cor do rio eu não gosto. Do risco de bichos, de mim, que breve serei um bicho do outro lado da cidade.

O medo. Percorre cada dedo, dobra, cada cheiro que reconheço. Ser bicho entre aqueles outros, tudo de novo, tudo pressionando enquanto parece que cai a cobertura.  O conhecimento, o entendimento, a recuperação, a dependência, eu bicho.
Essa é das partes a que me preocupo. Toco um desaforo do Cazuza, não resolve. Do meu mundo eu sou a maior complicação, porque sempre paro pra pensar no que é a vida, no que é a dor, no que é o passado e o lá na frente, pra viver na mente acordada a interrogação de mais um sonho.

Tenho saudade do mar, da água calma e do meu deslumbramento diante dos peixes. Amorteço os dias e penso que lá na frente eu vou voltar no mar. Daí estarei sendo bicho “da federação”. Fico feliz e triste, é grande e é pequeno ao mesmo tempo. Confronto a realidade e vejo, não tem como resolver.

Pra ficar melhor eu paro, que isso já não resolve.



Brinco de que não sou eu, mas sou eu falando de um outro alguém. Vou, volto sem o compromisso de nada. O novo sempre assusta, é dele que as passadeiras fogem, é para ele que se vai.

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