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4 de agosto de 2014

Respiro fundo o buraco da ausência do teu abraço. Sinto frio.

A casa de minha mãe lembra você, da grande noite que você escolheu partir. A lealdade que durou o tempo do seu primeiro suspirar, e sumiu.

Deixo que você vá. No mar, enquanto atravesso a água eu solto teu colar. Choro seu adeus na beira da praia que ainda não vejo. Me despeço, meu traiçoeiro amor do passado. Não te romantizo nunca, te despeço apenas pelos lábios.

Vou, sem acreditar que exista algo além. Me mostrastes que tudo perece, assim me vou sem mais - o seu mundo já não interfiro. Esse seu olhar duro que me mira em memória não faz mais parte do meu sonho. Não quero mais que seja.

Vou aprender a lidar com o fardo de suas últimas flechas, vou guardar suas últimas palavras, seu mau humor exclusivo para mim, suas pedradas.

E um dia, as grossas gotas que respingam meu telhado hão de lavar humilde minha alma, minha dor, levar embora minhas lágrimas. Eu sonho com o olho aberto a esperança de esquecer em mim esses dias. Apagar o calafrio do olhar que me moeu em pó, em nada. Eu tirar da memória o pouco caso que fizeram de tudo aquilo que sou.


Mas enquanto tudo isso não se apronta, escrevo. Pra sugar de mim o peso da memória de quando saía cedo de seu beliche e ia trabalhar com o sol raiando, de quando matávamos juntos os insetos invasores, de quando para "o nós" meu sorriso tinha importância. Hoje calo, hoje eu choro mais e só pra mim. Hoje é o primeiro dia que imploro desesperadamente para que não apareças em meus sonhos.c

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