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4 de maio de 2014

Água

Venta. A maré sobe alta até o meu pescoço. Abro tão leve os braços e deixo que o contato pleno aconteça, me entrego sem saídas. No mar eu converso comigo.

Está aqui a resposta, desse todo envolto de vidas e tons dissonantes, de contrastes e entraves que só as águas da plenitude hão de mover. Um ir e vir tão sem querer e natural do externo. A maré me carrega, e de um deslumbrante e novo modo eu me deixo esvair nesse caminho.

Que esse mundo, meu amigo, não cansa de ser diverso e audacioso, ele teima em me arrastar pra dança. São tantos os modos e meios, quando vejo já sou dele. Permito pela fome, fome do alívio, de que me resta no fundo uma raspa de mim a ser compartilhada.

Devaneio longe, que as linhas invisíveis do mar são as minhas, entre o véu do sonho e esse concreto vento. O mar cumpre o papel, entro ao plano livre das analogias, anomia em viver? De que lado fico? Mergulho, pra cair de vez?

Antes disso, a menina aprende a boiar. Tem mais linda vista que essa? O arrepio na cabeça, o abraço mais pleno, algo de alma presente. O passado reaparece - e brinca sorrindo às 20 horas. Vasta, livre, a força física rebate e o plano real torna. Revivo esse momento, a Lua vermelha, o micróbio do samba e a noite linda que desenhamos nossos sonhos na beira do mar.

Água salgada do mar, consciência plena de mim.

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