Páginas

4 de março de 2012

Um homem, uma mulher

Seu corpo coberto de marca de facas, seus braços que dia após dia vemos murchar com a diabetes, às vezes seu silêncio, suas olhadas tentadoras sobre as pernas que tímidas passam... Preso nos olhos de menino, quase cego.

Passa o dia bebendo água, aposentado e segurança da casa que Maria trabalha, outrora representante do Estado na Febem.

Cuidadoso com as palavras, raramente galanteador de vaidades, convincente na adjetivação alheia às meninas moças, as quais com galanteios simples se dirige. A ele, Maria emprestou os sonhos dO Pequeno Príncipe, os quais depois comentou com voz de inocência.

Forte, com uma linda trajetória, que mesmo não verídica, já valeu pela bonita invenção que suas expressões causaram.

É verdade, a primeira vez que o corpo de menina gosta de ser visto como corpo de mulher. E se criança era, a partir de agora com curvas e olhares de caçadora, a moleca deixa de ser caça.

Agora pega na mão com demora, segura firme e sorri largo, deixa-o perceber que o vê sedento mirá-la. Ele a observá-la.

Na sua boca de homem conta a história de seu personagem, cinco anos dormindo na sala, sem toque, sem sexo, sem amor. Admirável história.

Desta forma, o cenário se configura, muda paisagem, muda quem era ela, agora o diálogo só resta entre ela e Ela mesma, agora Maria-mulher, Maria que se vê bonita, mas em caminhada só.

"É preciso pouco para vê-la. É preciso mesmo vê-la? Agora, acha que não".

Nenhum comentário: