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30 de maio de 2011

As panelas...

estão vazias...

O arroz é pouco para alimentar as seis bocas. O quilo, comprado na conta da mercearia Três Irmãos, foi 4 reais.
O feijão é do norte, uns vizinhos que foram visitar um parente doente voltaram da Bahia e deram dois quilos de presente!

"Quero mais não". Isso a boca fala enquanto cala a fome, mente não perceber a existência da fome, porque sabe! Todos já tiraram sua medida e as panelas estão vazias.
Como se não houvesse a fome que há, toma um copo de água e deita na cama!
É triste, porque a fome não mata rápido; a cobrança na correspondência, a pendência, a maledicência que se faz de si mesmo. Um horror da realidade tão crua, não cozida, assada em tijolo baiano no quintal da casa sem gás.
A luz é gato, a água é gato, a fome é fera que rasga do menino menor ao pai de família- humilhado! Parece uma regra, segue "certa" todo o mês. A mesma pendência, a mesma fome, a mesma vergonha! A mesma sensação de máquina da unidade fabril, produzindo para o seu senhor.

Uma vida de miséria, calçada de lama, vestida de farrapos como quem veio de inúmeras guerras. O chão, batido de cimento tem buracos feios; a geladeira é completamente branca, sem o colorido das verduras, das cartelas vermelhinhas em forma de coração, sem leite... O armário sem pão, a mesa sem ninguém.
A vergonha mora na cara dos seis; a pobreza, a miséria, a tristeza. A tristeza que nem a farsa da novela das nove consegue abater! Tristeza, porque quando cada um nasceu alguém colocou a placa: Fome!
Se tentam? Sim, eles tentam arrancá-la. Mesmo com a panela vazia, com a mesa sem pratos, sem muita coisa pra enfeitar a casa eles forram tapetes coloridos que ganham nos aniversários. Plantam algumas mudas no fundo do quintal, abrem sempre a janela para entrar um raio de sol.

Quem para no portãozinho da casa, de ferro sem pintura e sem cadeado, não ouve um só riso ou uma só lamuria. Eles moram ali, e com eles as panelas vazias e um silêncio que inexplicavelmente mata junto da fome a alma de cada um deles. Não viemos aqui pra isso, isso não é normal, isso que se quer é menor do que o direito de existir!
menor do que o direito de existir

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