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20 de agosto de 2011

Recuar

Instigado pelo livro, o pobre diabo foi crer em suas próprias escolhas.

Caminhou até a porta, abriu-a delicadamente e olhou com vista terna o novo cômodo; pelo ar que corria doce e perfumado. Olhava detalhadamente cada canto, cada papel na parede, cada enfeite dos móveis tentando provar do gosto que o ambiente tinha.
Um longo tempo: fotografou todo pó, o tipo de luz do ambiente, o cheiro e as ações das almas presentes. Ele era um estudioso naquela hora, debruçado sobre o desejo de sua pobre curiosidade.
Com a vista tocava cada superfície, os olhos emaranhados quase molhavam o chão bonito, azulejado como num quarto de mulher. A porta com trinco, a janela sem cortina. A mesa, o armário, o banco e as roupas num canto; falavam de um outro jeito de ser.
Se pudesse, ele comeria cada móvel para entender aquela plenitude, até o ar ele comeria se possível o fosse. A plenitude era simplesmente um novo cômodo existente, ele apreciava o novo! Mas ali, também era morada de outros corpos habitados por milhares de demônios. E a porta com tranca, que no centro da porta trancava o mundo foi "acionado", e ele obrigado fora a sair.
O desejo dele feria, porque desejo fere! O cheiro dele, o olhar que filtrava por inteiro o cômodo e incomodava os demônios (certos, racionais e reservados para si). Instigado pelo livro, e por sua intensidade (talvez do olhar deslumbrado) foi gretado, sem que saiba dizer como ou o porquê além desses especulados.
Hoje o livro instiga-o à recuar, mas sua memória fotográfica e sensitiva o prende. A ordem é "recuar", mas ele não serve seus demônios (certos, racionais e reservados para si).

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